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domingo, 22 de julho de 2012

Pronunciamento no lançamento do livro Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor

Reproduzo abaixo o pronunciamento que fiz no lançamento do livro Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor, no dia 19 de julho de 2012, na Faculdade de Tecnologia Senac Florianópolis.


Como disse Paulo Freire no livro Pedagogia da Autonomia, não há docência sem discência. Embuídos neste espírito, que para bem lecionar é preciso aprender o tempo todo, propus, no dia 03 de dezembro de 2011, um desafio aos meus alunos, e também colegas de trabalho no Senac (professores e funcionários administrativos) a partir da disciplina Mídia-Educação, que investigássemos mais a fundo o conteúdo proposto para a escrita deste livro. Sete meses depois, aqui estamos nós, orgulhosamente, lançando uma obra que não espera estar acabada, mas que seja a abertura de um diálogo entre professores do Brasil sobre o uso das tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem.

Henry Jenkins, no livro Cultura da Convergência advoga em favor de uma cultura participativa, da convergência de mídia e de uma inteligência coletiva, esta última uma prerrogativa defendida também por Pierre Lévy, filósofo que argumenta que ninguém é inteligente sozinho; cada um só pode ser inteligente em um contexto, na partilha de saberes com outros.

Roger Silverstone, na obra “Por que estudar mídia?” afirma que, se no século XX vimos a TV e o rádio se transformarem em objetos de consumo de massa, agora estamos diante de uma intensificação de uma cultura midiática. 

Pois bem, se os professores do século passado, salvo algumas exceções, não usaram aquelas tecnologias em favor da aprendizagem de seus alunos, os professores do século XXI dificilmente ficarão alheios às tecnologias digitais. O aluno não levava a TV e o rádio para a sala de aula, mas hoje leva seus notebooks, tablets, celulares e outros dispositivos. Aproveitar-se das possibilidades que as tecnologias, sobretudo digitais, abrem para uma nova leitura de mundo e de apropriação de conhecimento, é o grande desafio que os professores da atualidade têm pela frente.

Quero agradecer ao apoio do Senac para a construção e divulgação desta obra, tanto aos gestores da administração regional em Santa Catarina, quanto aos gestores da Faculdade de Tecnologia Senac Florianópolis.

Peço licença a estes para agradecer, sobretudo, aos meus colegas que me ajudaram a construir este livro. Sem o esforço, apoio e credibilidade que deram a este projeto, isto não seria possível.
Vou chamá-los pela ordem em que figuram no livro “Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor”. Autoras do capítulo “Blog, Podcast e Youtube no processo de ensino e aprendizagem”, chamo aqui Joice, Maira e Renata.
Autores de: “A utilização de mapas conceituais como instrumentos no desenvolvimento de competências em informação”: Daniela, Noeli e Emerson.
Autores do capítulo “Jogos Educativos Digitais no processo Ensino-Aprendizagem”: Rafael, Helio, Emerson, Paulo, Fernando.
Autoras de “Hipertexto na prática pedagógica: uma leitura efetiva”, Andrea, Ivone e Rosangela Calza.
Autoras de “Formação Docente para o uso das tecnologias digitais”, Rosangela Paiva, Silvana e Vera.
Autoras de “Experiência de uso das redes sociais no processo de ensino aprendizagem – Facebook, Orkut e Twitter”: Josiele e Leonor.
Eu fecho a obra com “Uso de Webquest na Educação Superior: balanço de dois anos de pesquisa”.

Gostaria de finalizar com agradecimentos a duas professoras que não estão presentes e que deram apoio fundamental: Nadi Helena Presser, ex-coordenadora de Educação Superior do Senac/SC e atualmente professora da UFPE, pelo prefácio. 


Patrícia Gonçalves Ribeiro, professora de língua portuguesa em Belo Horizonte que fez a revisão ortográfica deste livro.



Mais uma vez obrigado ao Senac, que me permite ser docente, discente, pesquisador, editor da revista científica Navus e atualmente escritor. O que mais um professor pode querer?

Educação a Distância (EaD), tecnologias na Educação e interfaces EaD-Presencial - Elaboração do Plano Municipal de Educação - Ituporanga/SC


Educação a Distância (EaD), tecnologias na Educação e interfaces EaD-Presencial[1]
Eli Lopes da Silva[2]

Ituporanga, SC. 23 de julho de 2012.

Educação a distância no plano Municipal de Educação

O termo “Educação a distância” figura no Plano Nacional de Educação (PNE – 2011/2020) em três metas diferentes.
Na meta 10, com previsão de “oferecer, no mínimo, vinte e cinco por cento das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio” (BRASIL, 2010, 12), o termo educação a distância é destaque em uma das estratégias que é a de “fomentar a integração da educação de jovens e adultos com a educação profissional, em cursos planejados, de acordo com as características e especificidades do público da educação de jovens e adultos, inclusive na modalidade de educação a distância.” (BRASIL, 2010, p.12).
Na meta 11, que é “Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta”, (BRASIL, 2010, p.13) o termo faz parte da estratégia de número 11.3, que é “Fomentar a expansão da oferta de educação profissional técnica de nível médio na modalidade de educação a distância, com a finalidade de ampliar a oferta e democratizar o acesso à educação profissional pública e gratuita” (BRASIL, 2010, p.13).
Finalmente, o termo é considerado também na meta 14, que trata da elevação do número de matrículas em cursos de pós-graduação stricto sensu, quando uma das estratégias para o alcance desta meta sugere que se usem metodologias da educação a distância, via Universidade Aberta do Brasil. (BRASIL, 2010).

Como pensar estas metas em nível municipal?



Tecnologias na Educação

Belloni (2010) realizou em 2006 uma pesquisa com 373 crianças do ensino fundamental e médio, na cidade de Florianópolis e constatou que, embora 73% já tinham utilizado a internet, apenas 20% disseram ter tido o primeiro acesso na escola. “Ao contrário dos países ricos, a instituição escolar [no Brasil] desempenha um papel pífio nesse processo de democratização da internet.” (BELLONI, 2010, p.84).
Em relação aos docentes, Fantin (2010) entrevistou 80 professores em Florianópolis, no ano de 2010 e verificou que 95% deles utilizam computador em suas casas, com acesso à internet, entretanto, 82% disseram que não ter conhecimento para utilização do computador em sala de aula, como recurso auxiliar em suas práticas pedagógicas.
Os professores do século XXI precisam prestar atenção nas mídias como recurso pedagógico e vislumbrar seu uso. Isto deve ser feito não apenas por modismo, mas porque as tecnologias, sobretudo digitais, fazem parte do cotidiano de professores e alunos (SILVA, 2012).
Silva e Abrahão (2010), em uma pesquisa-ação com o uso de Webquest na prática pedagógica, em Florianópolis, também enfatizam a dificuldade de conseguir adesão dos professores no uso de tecnologias digitais na educação.

Os professores são convidados, apresentam inicialmente um interesse grande pelo trabalho que está sendo realizado, entretanto, desistem de criar Webquest e, sendo assim, o apoio fica na maioria das vezes apenas no aspecto moral e não na prática. (SILVA; ABRAHÃO, 2010, p.6).

A televisão ampliou as possibilidades da comunicação de massa. O tipo de comunicação um para muitos do rádio, passou a ter uma “cara”.
            A internet veio permitir a comunicação muitos para muitos. Com ela:

A lógica comunicativa se inverte: a centralidade das mídias é substituída pela centralidade dos sujeitos. São eles que se tornam protagonistas de um cenário social e cultural caracterizado por uma multiplicação de telas disponíveis (às telas da televisão se acrescentam as telas do computador, celular, palmtop, play station,   I-Pod) e pela navegação de uma a outra dessas telas que são guiadas pelo interesse pessoal e pela necessidade do momento. (FANTIN; RIVOLTELLA, 2010, p.91).

Possibilidades de uso das tecnologias na educação

As tecnologias, sobretudo as digitais, já fazem parte do cotidiano de grande parte dos alunos, mas está longe ainda de serem incorporadas nas práticas pedagógicas dos professores.
Os alunos, além de acessar as redes sociais (Orkut, Facebook, entre outros), já compartilham documentos no Google Docs, criam seus próprios blogs, contribuem com a construção de Wikis, publicam seus vídeos no Youtube, enfim, interagem fora do espaço escolar.
Já não é hora dos professores incorporarem essas tecnologias em suas práticas pedagógicas, com o objetivo de, além de motivar os alunos, oferecer novas meias dos quais eles possam se apropriar no processo de ensino e aprendizagem?
Recursos não faltam e a maioria sem custo: publicação de vídeo no Youtube, escrita colaborativa com o Google Docs, criação de mapas conceituais com o Cmap Tools, criação e uso de Webquest, o Portal do Professor no site do MEC, os blogs e tantas outras possibilidades.
Sobre o uso de Blog na prática do professor, Modolon, Westrup e Bomfim (2012, p.17) argumentam que é “um recurso que desperta o senso crítico e colaborativo dos usuários na autoria dos textos e do trabalho colaborativo. Proporciona a construção e reconstrução de novos saberes”.
Spudeit, Viapiana e Prates (2012) argumentam em favor do uso de mapas conceituais como forma de conseguir aprendizagem significativa. Já em relação ao uso de jogos digitais para a aprendizagem, Jappur et al (2012) usam o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal proposto por Vygotsky para mostrar como é possível utilizá-los nas práticas pedagógicas.
Siqueira, Mallmann e Calza (2012) mostram como é possível utilizar hipertextos para a leitura assimilativa, enquanto Azevedo e Mendes (2012) apresentam as possibilidades de interatividade com o uso das redes sociais na prática docente.
Silva, Souza e Corrêa (2010) afirmam, entretanto, que não se devem utilizar as tecnologias apenas como modismo e que não dá para confundir entusiasmo com aprendizagem.
Investir tempo em aulas criativas e mais participativas, com ou seu o uso de tecnologias, dá trabalho, por outro lado, dá resultados em favor da aprendizagem.
           
Interfaces entre as modalidades a distância e presencial

O uso das tecnologias digitais em ambientes EaD, que de certa forma tendem a estender-se à educação presencial, como recursos que podem ser adotados pelos professores em suas práticas pedagógicas, ainda mostra-se bastante incipiente. Boa parte dos professores utiliza slides produzidos em PowerPoint para elaboração de suas aulas, mas, quando se fala do uso de Objetos de Aprendizagem, uso de Blogs na Educação, escrita colaborativa (por exemplo com o Google Docs), criação de Podcast, entre outros, há um número expressivo de professores que ainda desconhecem. Fomentar o uso destes recursos pelos professores na educação à distância, pode ser uma estratégica pedagógica de caráter investidor, que fomenta e que apresenta resultados em favor da aprendizagem dos alunos.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Josiele Heide; MENDES, Leonor Medeiros. Experiências de usos das redes sociais no processo de ensino aprendizagem – Facebook, Orkut, Twitter. In: SILVA, Eli Lopes da. (Org.). Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor. Curitiba: CRV, 2012. p. 117-126.

BELLONI, Maria Luiza. Crianças e mídias no Brasil: Cenários de mudança. Campinas, SP: Papirus, 2010.

BRASIL. Projeto de lei 8035/2010. Brasília: Câmara dos Deputados, 2010. Disponível em: .Acesso em: 07 ago. 2011.

FANTIN, Mônica. Um olhar sobre os consumos culturais e os usos das mídias na prática docente. In: ENCONTRO DE PESQUISA E EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUL – ANPED SUL, 8., 2010, Londrina. Anais do VIII Encontro de Pesquisa em Educação da Região Sul. Londrina, PR: Universidade Estadual de Londrina, 2010. (CDROM).ISSN 2178-0374

FANTIN, Monica; RIVOLTELLA, Pier Cesare. Crianças na era digital: desafios da comunicação e da educação. REU, Sorocaba, SP, v. 36, n. 1, p. 89-104, jun. 2010.

JAPPUR, Rafael et al. Jogos educativos digitais no processo ensino-aprendizagem. In: SILVA, Eli Lopes da. (Org.). Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor. Curitiba: CRV, 2012. p. 61-82.

MODOLON, Joice Rodrigues; WESTRUP, Maiara de Lima Machado; BOMFIM, Renata Albino Antonio. Blog, Podcast e Youtube no processo de ensino e aprendizagem. In: SILVA, Eli Lopes da. (Org.). Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor. Curitiba: CRV, 2012. p. 15-34.

SILVA, Eli Lopes da. Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor. Curitiba: CRV, 2012.

SILVA, Eli Lopes da; ABRAHÃO, Alessandro de Matos. Webquest e prática pedagógica: construção e uso de uma ferramenta para publicação. In: Anais do V Congresso Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem (CONAHPA). Pelotas, RS: Universidade Católica de Pelotas, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Pelotas, 2010. (CDROM). ISBN 978.85.60522.620.

SILVA, Eli Lopes da; SOUZA, Diney Domingos de; CORRÊA, Alexandre Bastos. Construção, uso e avaliação de uma plataforma para Webquest baseada no Joomla: pesquisa-ação na Faculdade de Tecnologia Senai Florianópolis. In: COLÓQUIO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 7., 2000, Belo Horizonte. Anais do VII Colóquio Nacional de Pesquisa em Educação. São João Del Rei, MG: Editora UFSJ, 2010. ISBN 978-85-88414-60-0.

SIQUEIRA, Andrea Rodrigues; MALLMANN, Ivone Maria; CALZA, Rosangela. Hipertexto na prática pedagógica: uma leitura efetiva. In: SILVA, Eli Lopes da. (Org.). Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor. Curitiba: CRV, 2012. p. 83-104.

SPUDEIT, Daniela; VIAPIANA, Noeli; PRATES, Emerson. A utilização de mapas conceituais como instrumentos no desenvolvimento de competências em informação. In: SILVA, Eli Lopes da. (Org.). Mídia-Educação: tecnologias digitais na prática do professor. Curitiba: CRV, 2012. p. 35-60.


[1] Para referenciar este texto:
SILVA, Eli Lopes da. Educação a Distância (EaD), tecnologias na Educação e interfaces EaD-Presencial. (2012). Disponível em: . Acesso em: 23 jul. 2012.
[2] Mestre em Educação (PUC Minas); Bacharel em Ciências da Computação (PUC Minas). Atualmente é professor da Faculdade de Tecnologia Senac Florianópolis, editor científico da NAVUS – Revista de Gestão e Tecnologia (www.navus.sc.senac.br) e aluno de doutorado em Educação na linha de pesquisa Educação e Comunicação na Universidade Federal de Santa Catarina.