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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Currículo escolar

Retomando alguns textos que produzi na época do mestrado, quero aproveitar parte de uma reflexão que fiz, na época intitulada "Currículo, teoria e prática", na disciplina "Currículo e suas dimensões socioculturais", na qual tive a honra de ter como professora a Rita Amélia Teixeira Vilela.


Currículo escrito x currículo praticado


            Buscar o sentido de currículo não é possível sem reconhecer que ele é socialmente constituído. Entretanto, por haver relações de poder, de forças sociais em sua constituição, nós o vemos como resultado dessas forças, como “conquistas” ou “dominação” de determinados grupos sobre outros.
            Goodson (1995) afirma haver uma distinção entre o currículo escrito e a prática na sala de aula. Concordamos com ele que há uma lacuna entre o estabelecido e a prática. Entendemos que a prática amplia ou reduz as possibilidades do currículo escrito e que a própria prática pedagógica constitui um novo currículo, quase sempre diferente do que está escrito na proposta pedagógica do curso, diferença esta que pode significar perdas ou ganhos.
            Muitas vezes esta lacuna é o resultado de pensar em currículo sem pensar nas formas de sua implementação ou, o que é pior, sem considerar as prováveis relações que, na prática, constituirão verdadeiramente o currículo. Portanto, sem levar em conta essas relações, o currículo escrito estará cada vez mais distante do currículo praticado.

Etimologia


            A palavra currículo vem de curso, de correr, de pista de corrida, donde podemos inferir que significa também “percurso”. Goodson (1995) faz a relação de currículo e classe, em razão da massificação da atividade escolar, quando afirma:

Se a ‘classe e o currículo’ passaram a integrar o discurso educacional quando a escolarização foi transformada numa atividade de massa na Inglaterra, o ‘sistema de sala e aula e a matéria escolar’ emergiram no estágio em que a atividade de massa se tornou um sistema subsidiado pelo Estado. (GOODSON, 1995, p.35).

            Currículo hoje está associado à ideia de matéria escolar. Por ser considerado apenas como matéria escolar, o grande esforço de alguns grupos é que os seus discursos sejam transformados em “disciplinas acadêmicas”.   Esse jogo de forças para transformação de discurso em disciplina é também um jogo de poderes para colocar algumas disciplinas como mais importantes. “Todo currículo envolve pressupostos de que alguns tipos e áreas de conhecimento são mais valiosos do que outros”. (YOUNG, 2000, p.33).
            As disciplinas acadêmicas criam uma estratificação do saber e o seu grau (de estratificação) é que vai acabar por definir o que é necessário saber. “Se o saber for altamente estratificado, haverá definições claras sobre o que é considerado saber, para servir como critério para decidir que conhecimentos devem ser incluídos ou excluídos dos currículos”. (YOUNG, 2000, p.34).
            Na perspectiva da sociologia do currículo, cabe entender porque determinados conteúdos são inseridos ou retirados das escolas. “Para os sociólogos das disciplinas escolares, a história do currículo tem por meta explicar por que certo conhecimento é ensinado nas escolas em determinado momento e local e por que ele é conservado, excluído ou alterado”.  (MOREIRA, 2001, p.35).

Conclusão


            Para entender currículo escolar, deve-se buscar o entendimento de como ele é constituído, bem como perceber as diferenças entre o currículo escrito e aquele praticado. É necessário entender sobre sociologia do currículo, buscando perceber e/ou analisar as forças (pode-se entender forças também como poderes) que deliberam currículos nas instituições escolares e como as relações sociais contribuem para sua formação.

Referências


GOODSON, Ivo. Currículo, Teoria e História. Petrópolis: Vozes, 1995.

MOREIRA, Antônio Flávio B. Currículos e programas no Brasil. 8.ed. Campinas: Papirus, 2001.

YOUNG, Michael F.D. O currículo do futuro: da “nova sociologia da educação” a uma teoria crítica do aprendizado. Campinas: Papirus, 2000.