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domingo, 3 de abril de 2011

Currículo Escolar


Currículo escrito x currículo praticado


            Buscar o sentido de currículo não é possível sem reconhecer que ele é socialmente constituído. Entretanto, por haver relações de poder, de forças sociais em sua constituição, nós o vemos como resultado dessas forças, como “conquistas” ou “dominação” de determinados grupos sobre outros.
            Goodson (1995) nos mostra que há uma distinção entre o currículo escrito e a prática na sala de aula. Concordamos com ele que há uma lacuna entre o estabelecido e a prática. Entendemos que a prática amplia ou reduz as possibilidades do currículo escrito e que a prática pedagógica constitui um novo currículo.
            Muitas vezes esta diferença entre o currículo escrito e aquele praticado é  resultado de uma linha de pensamento que constrói currículos sem pensar nas facetas de sua implementação ou, o que é pior, sem considerar as prováveis relações que, na prática, constituirão verdadeiramente o currículo. Portanto, sem levar em conta essas relações, o currículo escrito estará cada vez mais distante do currículo praticado.

Etimologia e epistemologia


            A palavra currículo vem de curso, de correr, de pista de corrida, donde podemos inferir que significa também “percurso”.
            Goodson (1995, p.35) faz a relação de currículo e classe, em razão da massificação da atividade escolar, quando afirma:
Se a ‘classe e o currículo’ passaram a integrar o discurso educacional quando a escolarização foi transformada numa atividade de massa na Inglaterra, o ‘sistema de sala e aula e a matéria escolar’ emergiram no estágio em que a atividade de massa se tornou um sistema subsidiado pelo Estado.
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            Currículo hoje está associado à idéia de matéria escolar. Por ser considerado apenas como matéria escolar, o grande esforço de alguns grupos vai no sentido de transformar seus conhecimentos em “disciplinas acadêmicas”.
            Esse jogo de forças para transformação de conhecimento de um grupo em disciplina é também um jogo de poderes para colocar suas disciplinas como mais importantes. Young (2000, p.33) mostra esta preocupação quando diz que “Todo currículo envolve pressupostos de que alguns tipos e áreas de conhecimento são mais valiosos do que outros”.
            As disciplinas acadêmicas criam uma estratificação do saber e o seu grau (de estratificação) é que vai acabar por definir o que é necessário saber, pois “se o saber for altamente estratificado, haverá definições claras sobre o que é considerado saber, para servir como critério para decidir que conhecimentos devem ser incluídos ou excluídos dos currículos”. (YOUNG, 2000, p.34).
            Na perspectiva da sociologia do currículo, cabe entender porque determinados conteúdos são inseridos ou retirados das escolas, pois, como afirma Moreira (2001, p.35): “Para os sociólogos das disciplinas escolares, a história do currículo tem por meta explicar por que certo conhecimento é ensinado nas escolas em determinado momento e local e por que ele é conservado, excluído ou alterado”.
            Entender currículo é procurar saber como ele é formado, mas é também buscar o entendimento das diferenças entre o currículo escrito e aquele praticado.  É necessário pensar numa sociologia do currículo, buscando perceber e/ou analisar as forças que constroem currículos e como as relações sociais contribuem para sua formação.

Referências


GOODSON, Ivo. Currículo, Teoria e História. Petrópolis: Vozes, 1995.

MOREIRA, Antônio Flávio B. Currículos e programas no Brasil. 8.ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.

YOUNG, Michael F.D. O currículo do futuro: – da “nova sociologia da educação” a uma teoria crítica do aprendizado. Campinas, SP: Papirus, 2000.