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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Palestra: Uso do método lógico para correção de manuscritos


Transcrevo abaixo o que entendi da palestra do professor Gilson Luiz Volpato (www.gilsonvolpato.com.br), proferida em 09 de julho de 2012, no XX Curso de Editoração Científica promovido pela ABEC – Associação Brasileira de Editores Científicos, na UFMG, em Belo Horizonte.
Gostei demais da palestra.

O palestrante iniciou sua apresentação com uma epígrafe: “A maioria das pessoas não planeja fracassar, fracassa por não se planejar”.  (John L. Berckley).

O professor Gilson chamou a atenção para aqueles que aceitam o encargo de parecerista de revista científica, os quais, ao longo da palestra, ele chamou de revisor. Sua primeira sugestão é para quem vai revisar trabalho científico é que se isole para fazer o trabalho todo de uma vez, porque o sujeito que começa o trabalho, para e retoma depois, perde muito tempo ao retomar. Além disto, há aqueles que tentam dar pareceres enquanto ficam ao mesmo tempo nas redes sociais, lendo emails, etc.

Revisar um artigo científico, segundo ele, é uma atividade que exige tempo e concentração.  O revisor é um abnegado. Ele faz isto por paixão, por ajuda à sociedade.

Para que serve a publicação científica? Gilson Volpato lembra que as publicações fornecem elementos de crítica para um conhecimento construído.

Sobre a pesquisa, ele afirma que não devemos ter a visão limitada de que toda pesquisa tem de ser aplicada. Dá como exemplo o raio laser que, quando foi descoberto, não se sabia qual seria sua utilidade.
Ele critica o fato de que, na pesquisa, muitas vezes negligenciamos a epistemologia.
Ele sugere a gente esquecer aquelas regrinhas de costumes. Quem pensa na frente, sai na frente. Cuidado com as regrinhas, diz o palestrante.

Sobre publicações internacionais, foram elencados 4 requisitos:
1 Novidade nas conclusões: todo cientista quer descobrir coisas, mas não descobrir coisinhas.
2 Metodologia robusta: desenho experimental; técnicas; número de réplicas; análise dos dados devem ser levados em conta.
3  Resultados claros. As melhores revistas do mundo não fazem publicações com resultados batendo na trave. Resultados batendo que batem na trave vão para as revistas mais fracas.
4 Apresentação impecável: o trabalho precisa ser bem apresentado.
Estes quatro pontos medem a qualidade de um trabalho para que seja publicado em uma boa revista.

Sobre a metodologia, ele afirma: ideia boa com metodologia adequada só pode dar bons resultados.
A maior dificuldade em publicar em revista boa é que somos pegos na lógica das conclusões.Um artigo bom precisa ter conclusões novas. Ainda que seja um artigo de revisão bibliográfica. Ele argumentou, entretanto, que o CNPq não financia artigos de revisão. É óbvio que é possível construir conclusões novas a partir de revisão bibliográfica, afirma.

Ao tratar de produção acadêmica, o palestrante fez uma crítica contundente que, aqui no Brasil, as pessoas publicam resumo expandido em congresso e estas publicações vão para o currículo Lattes. Segundo o professor Gilson, lá fora tem congresso que escreve no resumo expandido: “não cite, publicado como resumo expandido”. Ao falar disto, sugeriu tomar cuidado com citações a partir de teses, pois, para ele, o crivo de uma revista científica reconhecida é melhor que uma tese.

Outro fator importante na lógica são os contextos do pensamento científico.  Ao analisar uma ideia nova não podemos ser muito críticos, pois se formos, estaremos avaliando uma ideia nova com referenciais antigos. A crítica deve aparecer nos resultados e na discussão.

Um texto científico deve ser assim: apresentar as evidências e os leitores aceitarem as conclusões com base nas evidências. Ele alega que culturalmente no Brasil temos mania de encher o texto e alongá-lo demais. Há casos de professores que não aceitam as teses com a justificativa que ela está fininha.
A lógica de um artigo deve conter, estruturalmente, as justificativas – ideia – métodos – resultados – argumentações – conclusões.

Para ele a introdução deve conter a justificativa mais as ideias. O objetivo também deve aparecer na introdução. Tudo que for uma premissa necessária para o trabalho, deve aparecer na justificativa.
Resumo da lógica do texto científico: base empírica, contextos do pensamento, argumento lógico, texto como argumento, lógica das pesquisas, variáveis (podem ser classificadas em operacionais ou teóricas e em outra classificação em independentes ou dependentes).

Foram apresentadas 3 tipos de pesquisas:
a) Pesquisas descritivas: estas não apresentam hipóteses.
a) Pesquisas sem hipótese (tudo que for feito para tirar o retrato de uma situação)
            Elas DESCREVEM: estruturas, situações, ocorrências.
b) Pesquisas com hipótese
             - A hipótese é uma resposta provisória a uma pergunta, mas que ainda não foi testada.
            - Testam a RELAÇÃO entre duas variáveis ou mais.
            - Existem  2 tipos de RELAÇÃO: a associação entre variáveis ou interferência.
            - No caso das interferências, há uma causa, interferência e um efeito.
                        - Causa – interferência – efeito.

As variáveis operacionais são indicadores (exemplo: massa, peso, glicemia).
As teóricas são aquilo que se quer de fato (erros relacionados a aprendizagem; massa relacionada a crescimento; glicemia relacionada a diabetes).
As variáveis operacionais são usadas para análise dos resultados; as variáveis teóricas são usadas na introdução, discussão/conclusão e no título.

O que revisar em artigos científicos? O Conteúdo (conclusão; evidências (métodos, resultados, literatura), a Forma  (métodos, dados, literatura) e a Redação (frases, parágrafos, figuras, tabelas).
E as conclusões, o que são? Para ele a conclusão é a essência do artigo. Ele inclusive costuma dizer: nós publicamos conclusões.  Em alguns casos, a conclusão traz algum resultado para comparar. A conclusão deve convergir para o objetivo do trabalho... ou ultrapassá-lo. Centraliza a conclusão na: descrição, associação, interferência. Se foi utilizada estatística no trabalho, conclua com base nela. Cuidado com as tendências (e percentuais). Um erro comum é tentar incluir materiais e métodos na conclusão.

O que incluir nos resultados?  Verificar nos resultados o que é necessário para chegar às conclusões. Aquilo que é resultado mas não interessa para o projeto, não tem sentido aparecer na escrita do artigo. No artigo, mais importando do que aquilo que você fez, mais importante é o que você tem para apresentar.Ele faz uma comparação com uma palestra. Quando você dá uma palestra, não interesse muito o que você leu para construir a palestra, mas o que você tem a mostrar. Enalteça nos resultados o que mais usará diretamente na discussão.

Alguns cuidados que ele sugere: não inclua o nome do laboratório ou da instituição. Ele diz que tem um cantinho lógico no trabalho (agradecimentos) onde pode ser citada a instituição ou laboratório que cedeu o espaço para a pesquisa. Só inclua coordenadas geográficas em estudo de campo.
Cuidado com valores gerais. Cuidado com o “adaptado de...”. Qual foi a sua adaptação? O que você modificou? Talvez você deva dizer eu fiz aquilo com tal adaptação. Não diga que os dados foram obtidos por um especialista. No caso de uso de software, por exemplo estatístico, não importa o software, mas sim o teste. (Erro: as análises foram feitas no SAS...).

Discussão: o que evitar? Evitar discussão fofoca: é aquela que compara os dados com os de outros autores, mas não acrescenta nada.  A discussão é o lugar onde vou usar as os resultados para mostrar minhas conclusões. Uma revista criteriosa iria perguntar: qual a sua novidade? A discussão é um texto argumentativo onde o autor valida suas conclusões.

A discussão precisa validar a metodologia. Sugestão: comece a discussão com as principais conclusões. Diga para o leitor: aqui a gente vai chegar em tal lugar. Sugira estudos futuros, apenas se forem decorrentes lógicos.
Faça recomendações somente se forem cabíveis. Cuidado também ao escrever os objetivos. Em pesquisas descritivas, por exemplo, não necessariamente vai haver hipóteses. Em pesquisa com testes de hipóteses, com associação com interferência, mostrar coisas do tipo: Avaliar se A causa B; testar se...; Testar se A aumenta B; etc.