Minha amiga Patrícia, também professora, publicou em seu Blog nesta semana que não traz grandes expectativas para 2011.
Fiz um pequeno comentário lá, dizendo que eu, como professor que sou, neste ano de 2011 no qual completarei 20 anos de docência, trago sim algumas expectativas:
Espero menos hipocrisia nas escolas. Por exemplo: que as pessoas parem de elogiar porcarias apenas para fazer média – seja do professor em relação ao aluno, da escola em relação ao aluno, ou mesmo da escola em relação ao professor.
Sou de uma época na qual o aluno não tinha vez nem voz. Nunca gostei disto. Sempre achei que o aluno devesse ter um papel ativo na escola.
Entretanto, nestes 20 anos de docência, passei por momentos onde muitas vezes vi o oposto. Alunos que mandam e desmandam na escola. Eles escolhem o que querem estudar, quando estudar, qual professor querem ter e até mesmo decidem as regras da escola.
Em função disto, professores têm sido cada vez mais vítimas: do sistema, dos alunos, da escola, das regras, da burocracia, dos baixos salários.
Não tenho receio de dizer isto, porque quem me conhece, sejam meus alunos, meus colegas de trabalho (professores e gestores) sabem do respeito que tenho por todos, sejam eles alunos, colegas, superiores. Portanto, não se trata de desabafo, mas de uma constatação. Até mesmo porque eu posso me considerar um privilegiado em relação a muitos colegas de profissão: trabalho atualmente em escolas que gosto muito, tenho lecionado disciplinas que adoro e tenho trabalhado com turmas muito boas.
Mas, por falar em constatação, aí vem outra: passamos de uma cultura da reprovação, na qual o aluno era reprovado muitas vezes porque errava um simples detalhe na avaliação, para uma cultura da aprovação, ou seja, qualquer coisa serve. A escola está permissiva demais. Tenho ouvido colegas, por exemplo, da área de línguas, corrigindo redações nas quais não há conteúdo, com excesso de erros de acentuação, erros de concordância, sem coerência no texto, sendo aprovadas, porque os professores são forçados a isto. Outros casos de colegas da matemática aprovando alunos que erraram todos os cálculos, pois “o que vale é o raciocínio”, sendo que muitas vezes não houve nenhum raciocínio demonstrado.
Se, há 20 anos eu percebia a escola como seletiva demais, agora muitas vezes percebo a escola como permissiva demais.
Como apontam os estudos de Jimenez et al (2002), os professores têm sofrido de síndrome de burnout com exaustão emocional, despersonalização, entre outros problemas apontados na pesquisa.
Gallert (2010), em sua dissertação de mestrado, mostra alguns aspectos da insatisfação dos professores, sobretudo em suas manifestações nas quais eles relatam a “maquiação da educação” (GALLERT, 2010, p.132) ou têm sensações do tipo “Se eu reprovar esse tanto de aluno vão dizer que eu é que não sou uma boa professora!” (GALLERT, 2010, p.132).
Espero, portanto, que a escola consiga um meio termo. E que a nossa presidenta Dilma consiga fazer mais e melhor pela Educação brasileira.
REFERÊNCIAS
GALLERT, Adriana Ziemer. A produção de sentidos subjetivos dos professores no enfrentamento das adversidades da docência. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Brasília/UnB, Brasília. Disponível em: http://biblioteca.fe.unb.br/pdfs/2010-03-191119adrianagallert.pdf. Acesso em: 03 jan. 2011.
JIMENEZ, Bernardo Moreno et al. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 7, n. 1, p. 11-19, jan./jun. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n1/v7n1a02.pdf. Acesso em: 03 jan. 2011.