1 Aspectos legais e técnicos
A resolução do Conselho Nacional de Educação e Conselho Pleno, CNE/CP número 3, de 18 de dezembro de 2002, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para organização e funcionamento dos Cursos Superiores de Tecnologia (CST). Em seu artigo 4º., a referida resolução reconhece o CST como curso de graduação e define que este tipo de curso confere o diploma de tecnólogo. O tecnólogo está apto a cursar pós-graduação lato sensu e stricto sensu (mestrado e doutorado). Entre as características de formação profissional do tecnólogo, destaca-se:
I – incentivar o desenvolvimento da capacidade empreendedora e da compreensão do processo tecnológico, em suas causas e efeitos;
II – incentivar a produção e a inovação científico-tecnológica, e suas respectivas aplicações no mundo do trabalho;[grifo nosso]
III – desenvolver competências profissionais tecnológicas, gerais e específicas para a gestão de processos e a produção de bens e serviços; [grifo nosso]
IV – propiciar a compreensão e avaliação dos impactos sociais, econômicos e ambientais resultantes da produção, gestão e incorporação de novas tecnologias; (BRASIL, 2002, p.1).
O artigo 3º. define critérios para a organização de CST, sendo um deles o “atendimento às demandas dos cidadãos, do mercado de trabalho e da sociedade” (BRASIL, 2002, p.1).
O CST difere dos bacharelados e das licenciaturas em dois aspectos principais: trata-se de curso com menor duração em relação a estes últimos, visto que objetiva dar uma formação voltada para o mundo do trabalho. Em outro aspecto, difere-se também pelo fato de que deve ser um curso com formação específica, ao contrário dos bacharelados, os quais normalmente possuem um cunho mais generalista. É por este motivo que o Curso Superior de Tecnologia se apresenta sempre como um recorte de uma grande área, para que, no seu planejamento, organização e execução, consiga dar as competências de gestão de processos, compreensão dos processos tecnológicos e desenvolver as competências profissionais e tecnológicas do recorte que é realizado. Por exemplo: dentro da área de informática ou ciência da computação, os recortes podem ser a Gestão da Tecnologia da Informação, a Análise e Desenvolvimento de Sistemas, o Gerenciamento de Redes de Computadores, entre outros; cada um com sua formação específica.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a criação de Cursos Superiores de Tecnologia, citadas na resolução CNE/CP número 3, estão definidas no Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia 2010, catálogo este criado na “perspectiva de formar profissionais aptos a desenvolver, de forma plena e inovadora, as atividades em determinado eixo tecnológico” (BRASIL, 2010, p.5).
O catálogo está organizado em eixos tecnológicos, dentro dos quais estão os cursos e as diretrizes para a organização de cada um, com recomendação de carga horária mínima, infraestrutura necessária e conteúdos mínimos a serem cumpridos pela Instituições de Educação Superior (IES).
O Curso Superior de Tecnologia em Gestão da Tecnologia da Informação está no eixo tecnológico “Informação e Comunicação”. Este eixo:
Compreende tecnologias relacionadas à comunicação e processamento de dados e informações. Abrange ações de concepção, desenvolvimento, implantação, operação, avaliação e manutenção de sistemas e tecnologias relacionadas à informática e telecomunicações. Especificação de componentes ou equipamentos, suporte técnico, procedimentos de instalação e configuração, realização de testes e medições, utilização de protocolos e arquitetura de redes, identificação de meios físicos e padrões de comunicação e, sobremaneira, a necessidade de constante atualização tecnológica, constituem, de forma comum, as características deste eixo. O desenvolvimento de sistemas informatizados desde a especificação de requisitos até os testes de implantação, bem como as tecnologias de comutação, transmissão, recepção de dados, podem constituir-se em especificidades desse eixo (BRASIL, 2010, p.47, grifo nosso).
O Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais e o Curso Superior de Tecnologia em Logística estão no eixo tecnológico “Gestão e Negócios”. Este eixo:
Compreende tecnologias associadas aos instrumentos, técnicas e estratégias utilizadas na busca da qualidade, produtividade e competitividade das organizações. Abrange ações de planejamento, avaliação e gerenciamento de pessoas e processos referentes a negócios e serviços presentes em organizações públicas ou privadas, de todos os portes e ramos de atuação. Este eixo caracteriza-se pelas tecnologias organizacionais, viabilidade econômica, técnicas de comercialização, ferramentas de informática, estratégias de marketing, logística, finanças, relações interpessoais, legislação e ética (BRASIL, 2010, p.17, grifo nosso).
2 Perfil profissional
A resolução CNE/CP número 3 afirma que o CST deve atender às demandas do mercado e o catálogo de cursos do Ministério da Educação prevê os conteúdos e cargas horárias mínimas para cada curso. Caabe às instituições educacionais que oferecem a formação de tecnólogo a definição do perfil profissional de conclusão de acordo com a realidade local e regional. A Faculdade de Tecnologia Senac Criciúma oferece atualmente o Curso Superior de Tecnologia em Gestão da Informação, o Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais e o Curso Superior de Tecnologia em Logística.
2.1 Curso Superior de Tecnologia em Gestão da Tecnologia da Informação
O Tecnólogo em Gestão da Tecnologia da Informação deverá ser capaz de:
- Diagnosticar e analisar a infraestrutura da empresa para implantação de soluções de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
- Elaborar projetos de TIC (redes, banco de dados, aplicações, equipamentos), articulando a infraestrutura tecnológica com processos, pessoas e informações.
- Escolher, avaliar e coordenar soluções e necessidades de aplicativos nos ambientes de negócio.
- Gerenciar processos de infraestrutura de Tecnologia da Informação (TI).
- Otimizar recursos tecnológicos propondo soluções para os processos de produção de serviços de TIC para o negócio, minimizando riscos de investimentos e fornecendo subsídios na tomada de decisões (custo/benefício) na infraestrutura de TI.
- Trabalhar em equipe, interagindo em situações de natureza diversificada, de forma contextualizada nas diversas atividades desenvolvidas no seu trabalho, demonstrando criatividade e autonomia na dinâmica estabelecida, propondo novas alternativas e formas adequadas à solução de problemas.
2.2 Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais
O Tecnólogo em Processos Gerenciais será capaz de:
- Tomar decisões e administrar processos de negociação, encontrando soluções alternativas pertinentes para as principais questões relacionadas ao campo de atuação da empresa.
- Elaborar, implementar, controlar e avaliar o planejamento estratégico e os planos táticos nas áreas de marketing, recursos humanos e logísticos.
- Identificar oportunidades de mercado, elaborar e avaliar projetos de investimento de novos negócios.
- Coordenar e controlar equipes, administrar conflitos, estabelecendo e mantendo um clima organizacional propício ao ambiente de trabalho, preservando as relações interpessoais entre gestores, funcionários, clientes, fornecedores e acionistas.
- Gerenciar o fluxo de informações, desenvolvendo e mantendo um sistema dinâmico de comunicação.
- Trabalhar em equipe, interagindo em situações de natureza diversificada, de forma contextualizada nas diversas atividades desenvolvidas no seu trabalho, demonstrando criatividade e autonomia na dinâmica estabelecida, propondo novas alternativas e formas adequadas à solução de problemas.
2.3 Curso Superior de Tecnologia em Logística
O Tecnólogo em Logística será capaz de:
- Atuar no processo logístico tanto na etapa da compra, estoque, distribuição, embalagem, armazenamento quanto na etapa de inter-relação com produção e marketing.
- Gerenciar e avaliar redes de distribuição e unidades logísticas, dentro dos padrões de qualidade.
- Analisar e aplicar o processo de planejamento estratégico, tomada de decisões sobre o sistema logístico, sempre com a melhor relação custo-benefício.
- Gerenciar o sistema logístico e sua viabilidade financeira, atendendo as necessidades do mercado.
- Programar e monitorar o fluxo de processamento de pedidos relacionados aos processos de compra e distribuição.
- Elaborar e implementar um plano de armazenagem, com fundamentos e técnicas do processo de estocagem e movimentação.
-Trabalhar em equipe, interagindo em situações de natureza diversificada, de maneira criativa e contextualizada, propondo novas alternativas e formas à solução de problemas.
3 O tecnólogo na gestão das organizações e desafios contemporâneos
Para Longo (1984), a tecnologia é o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos empregados na produção e comercialização de bens e serviços. Corroborando com esta ideia, Kruglianskas (1996) afirma que a tecnologia é o conjunto de conhecimentos necessários para conceber, produzir e distribuir bens e serviços de forma competitiva.
As tecnologias, é preciso dizer, são mais capacitantes (e incapacitantes) do que determinantes. Elas surgem, existem e expiram num mundo que não é totalmente criado por elas. [...] Não se deve compreender a tecnologia apenas como máquina. Ela inclui as habilidades e competências, o conhecimento e o desejo, sem os quais não pode funcionar. (SILVERSTONE, 2005, p.49).
Da mesma forma, Lévy (1993) afirma que o determinante é a subjetividade em atos dos grupos ou dos indivíduos que as utilizam e lembra que “Gutenberg não previu e não podia prever o papel que a impressão teria no desenvolvimento da ciência moderna” (LÉVY, 1993, p.186).
Sancho (1998, p.23) citada por Oliveira (2011, p.48) classifica as tecnologias em três tipos, a saber:
i) tecnologias instrumentais: são as representações materializadas nos artefatos físicos, por exemplo: computadores, celulares, lápis etc.; ii) tecnologias simbólicas: são aquelas que medeiam a comunicação entre as pessoas, como a linguagem, imagens, símbolos etc.; iii) tecnologias organizadoras: são as formas de relação do homem com o mundo, na organização dos inúmeros sistemas produtivos como, por exemplo: gestão e controle da aprendizagem, gestão da empresas, sistemas de qualidade etc.
O principal papel dos tecnólogos nas organizações é saber utilizar ou produzir tecnologias, sejam elas físicas, simbólicas ou organizacionais, de forma eficiente e eficaz, de tal maneira que as empresas possam se manter competitivas.
Os tecnólogos em Logística e Processos Gerenciais lidam principalmente com as tecnologias organizadoras ou organizacionais, conforme prevê o próprio eixo tecnológico no qual estes cursos estão inseridos, o de Gestão e Negócios. O tecnólogo em Gestão da Tecnologia da Informação lida principalmente com as tecnologias físicas. Há que se afirmar, entretanto, que todos eles devem ter competência para propor ou utilizar os três tipos de tecnologias.
Silva e Plonski (1999) entrevistaram 20 pequenas e 40 médias empresas no estado de São Paulo para avaliar a gestão da tecnologia. Os autores identificaram que estas empresas estão limitadas, em função da globalização, por uma série de fatores, tais como “limitada capabilidade na gestão da tecnologia para geração de novos produtos/processos que resultem em produção comercial com sucesso” (SILVA; PLONSKI, 1999, p.31).
Os apontamentos realizados por estes autores mostram que é necessário que as empresas tenham pessoas com habilidades na gestão e operacionalização do planejamento estratégico da tecnologia. Outro ponto importante abordado por eles foi a questão da pouca ou nenhuma participação dos funcionários na definição das metas das organizações. Além disto, o trabalho de Silva e Plonski (1999) mostrou que, em muitos casos, quando há inovação tecnológica, nem sempre esta é acompanhada de inovação nos processos.
Embora o objetivo da pesquisa dos autores tenha sido mostrar os desafios para pequenas e médias empresas frente à gestão da tecnologia, o trabalho deixa claro os papéis que o tecnólogo deve desempenhar nas organizações, suprindo as lacunas apresentadas, quais sejam: atuar na gestão da tecnologia, tanto na geração ou acompanhamento de novos produtos quanto processos; trabalhar na definição de metas; atuar no planejamento estratégico; utilizar as tecnologias físicas, simbólicas ou organizacionais adequadas a cada situação; trabalhar em equipe.
4 Diferenciais do SENAC
Para formar tecnólogos com conhecimento e domínio das tecnologias necessárias ao desempenho de suas atividades no mercado de trabalho, cidadãos com postura ética e com competência e habilidades para trabalhar em equipe, a Faculdade de Tecnologia Senac Criciúma oferece, nos seus Cursos Superiores de Tecnologia, entre outros, os seguintes diferenciais:
- Desenvolvimento de atividades complementares: são atividades que aliam a teoria à prática, nas quais os alunos desenvolvem um trabalho em equipe, sendo estas atividades realizadas em uma organização definida em conjunto entre professores e alunos. Cada atividade deverá ser acompanhada de fundamentação teórica, permitindo ao aluno conhecer, analisar e relacionar as várias teorias e sobre o conteúdo do trabalho.
- Trabalho de Conclusão de último Semestre (TCS): O TCS é o principal mecanismo utilizado para operacionalizar a metodologia diferenciada da Faculdade SENAC. O mesmo é desenvolvido ao longo do último semestre do curso com o objetivo de ampliar e construir conhecimentos por meio de pesquisa e da socialização desses conhecimentos. É também objetivo do TCS proporcionar aos alunos a oportunidade de desenvolver habilidades e atitudes que lhes permitam analisar e discutir a ciência e suas soluções para os problemas sociais e empresarias.
- Certificações intermediárias: As certificações intermediárias ampliam as oportunidades profissionais durante o percurso da formação acadêmica.
- Atividades de nivelamento: As atividades de nivelamento serão oferecidas em quaisquer dos semestres do curso, em horários a serem definidos junto a cada turma, não comprometendo o horário normal das aulas.
- Avaliação de aprendizagem referenciada a critérios (com indicadores de aprendizagem) e baseada em padrões absolutos: a avaliação da aprendizagem analisa os resultados do desempenho do aluno em relação ao conhecimento (saber), habilidades (saber fazer) e atitudes (saber ser) desenvolvidas no processo ensino-aprendizagem. A mesma caracteriza-se por um processo de avaliação formativa, referenciada ao critério e fundamentada em padrões absolutos, pois sua principal função é verificar o desempenho do aluno em relação aos indicadores de aprendizagem. Os resultados do processo avaliativo devem ser comunicados aos alunos, ressaltando-se o que deve ser melhorado e/ou requer adequação em cada indicador, propondo atividades para sanar as deficiências do processo de aprendizagem.
- Bibliotecas interligadas entre as faculdades Senac no estado de Santa Catarina.
- Programa de Pesquisa e Extensão: elaborado pela Direção Regional do Senac Santa Catarina e disponibilizado por meio de edital para as faculdades no estado.
- Professores com titulação exigida pelo MEC e experiência prática no mercado de trabalho.
- Acompanhamento pedagógico do processo ensino aprendizagem: atendimento pedagógico a professores e alunos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP 3, de 18 de dezembro de 2002. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a organização e funcionamento dos cursos superiores de tecnologia. Brasília: MEC, 2002. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia 2010. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: . Acesso em: 15 jan. 2012.
KRUGLIANSKAS, I. Tornando a pequena e média empresa competitiva. São Paulo : Instituto de Estudos Gerenciais e Editora, 1996.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
LONGO, W. P. Tecnologia e soberania nacional. São Paulo : Nobel, 1984.
OLIVEIRA, Sandro de. Cursos Superiores de Tecnologia: concepções de tecnologia e perfis profissionais de conclusão. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis.
SILVA, Jose Carlos Teixeira da; PLONSKI, Guilherme Ary. Gestão da Tecnologia: Desafios para as Pequenas e Médias Empresas. PRODUÇÃO, São Paulo, v. 9, n.1, p.31-40, out. 1999.
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? 2.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
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Ao citar este documento, referenciar da seguinte forma:
SILVA, Eli Lopes da. O papel do tecnólogo na gestão das organizações: bases legais da formação, perfil profissional, desafios contemporâneos e os cursos da Faculdade de Tecnologia Senac Criciúma. Disponível em: http://professorelilopes.blogspot.com. Acesso em: 17 jan. 2012.
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