Houve ótimas resenhas. Escolhi a melhor e, com autorização da autora, transcrevo abaixo, conforme original, a resenha escrita por MANOELA ALBERTONI.
1 Referência Bibliográfica
THIOLLENT, Michel. PESQUISA-AÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES. São Paulo: Atlas, 1997.
2 Credenciais do Autor
Michel Thiollent, graduado em Desenvolvimento Econômico e Social - Institut d'Etude du Développement Économique et Social (1969), mestrado em Développement Économique et Social - Université de Paris I (Panthéon-Sorbonne) (1971) e Doutorado em Sociologia - Université de Paris V (René Descartes) (1975). Atualmente é professor colaborador do PPGA - Programa de Pós-Graduação em Administração da UNIGRANRIO. Professor associado 3 aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro/COPPE. Tem experiência na área de Estudos Organizacionais e Metodologia de Pesquisa Qualitativa, atuando principalmente nos seguintes temas: pesquisa-ação, cooperação, métodos de pesquisa e de extensão.
3 Resumo da Obra
O compromisso da pesquisa-ação é fazer uso de uma metodologia participativa que venha a conduzir o conhecimento como um todo e que por conseqüência venha a estimular a participação de todos os colaboradores nas organizações. A torna-se também um sujeito no desenvolvimento da pesquisa, juntamente com o pesquisador, este grupo proporciona inserção, implicando na busca em expor situações e fazer uso do método para a busca de soluções diante da pesquisa participativa.
Cap. I - Pesquisa-ação e seus compromissos
Há inúmeras opiniões a respeito do cenário profissional onde empresas, organizações tendem a receber um protocolo, uma maneira de fazer a rotina administrativa. A problemática em torno do contexto das ciências sociais aplicadas procura orientar e até mesmo esclarecer alguns objetivos das práticas e das ações em ambientes corporativos.
A pesquisa-ação traz com seu valor colaborativo a perspectiva em estabelecer diálogos interessantes nas empresas como um todo em suas relações. Seu compromisso é relacionar seus colaboradores de uma forma amistosa e a partir de então propiciar investigação, levantamento de problemas e suas particularidades. Sendo assim, a pesquisa organizacional é tida por uma metodologia em um ambiente apto onde possa haver discussão de propostas, exposições de conflitos, ocasionando na condução de resoluções e organização.
“A proposta aqui apresentada não tem uma vocação limitada à gerência. Não se trata de uma técnica a ser quotidianamente aplicada para resolver pequenos problemas gerenciais e administrativos. É uma proposta de pesquisa mais aberta (com características de diagnóstico e de consultoria), para tentar clarear uma situação complexa e encaminhar possíveis ações, especialmente em situações insatisfatórias ou de crise”. (p.20).
Nesta proposta não cabe apenas aos altos escalões das organizações terem monopólio das opiniões e definições e sim uma abertura, onde a hierarquização possa coexistir em proporções semelhantes de opiniões.
Pesquisa-ação enquanto metodologia, “intercompreensão” dos atores na coexistência profissional, método comparável das ciências sociais e aplicadas, afastando-se do status quo[1], vindo a referenciar-se como técnicas do cotidiano em busca de soluções para problemas.
Em constante interatividade dos participantes, pesquisadores, colaboradores, supervisores, executivos, diretores tende a gerar uma tomada de consciência em primeira instância aos problemas detectados e em segundo, ação planejada. “Toda pesquisa-ação possui caráter participativo, pelo fato de promover ampla interação entre pesquisadores e membros representativos da situação investigada.” (p.21).
“A pesquisa-ação requer legitimidade dos diferentes atores e convergência de interesses, inclusive nas organizações, ao passo que a pesquisa participante lida com situações de contestação de legitimidade do poder vigente.” (p.22).
Ao compromisso participativo frente a objetivos e propostas a serem colocados e acordados em questão tem-se o compromisso democrático como importante rotina nas organizações. “A realização de uma pesquisa-ação é facilitada nas organizações de cultura democrática, quando já existe o reconhecimento e a participação de todos os grupos.” (p.24).
O papel dos atores críticos faz do envolvimento efetivo uma prática em busca de explanações, oportunizando a todos os envolvidos ao contexto a ser analisado. As relações de conflitos e elementos problemáticos recebem um diagnóstico, identificado pelos pesquisadores, havendo então um reconhecimento de todo o cenário para que então venha a adequar linguagem e aspectos relevantes a reintegração do equilíbrio. Conhecimento instrumental inseparavelmente.
Por sua vez, a introdução da pesquisa-ação em organizações requer uma atenção especial á coletividade, à atuação profissional, pois o limiar dos possíveis conflitos requer coerência ao percurso dos objetivos. Esta obra nos permite identificá-los: “Em geral, a pesquisa abrange fatos mais delimitados, tais como problemas de relacionamento ente áreas da organização, redefinição de identidade, treinamento de certas categorias do pessoal, mudanças no relacionamento hierárquico ou interpessoal, negociações de transformações decorrentes de inovações tecnológicas, formulação de reivindicações, etc. (p.27).
Frente a isso, há uma proposta em gerar informação através de um processo investigativo onde todos participem enquanto sujeitos da estrutura organizacional juntamente com os pesquisadores. Contudo, fazer com que as ações escolhidas venham ao encontro das expectativas da organização, tendo por objetivo que as ações venham a ser coerentes com a realidade. O autor ainda reitera a aplicabilidade desta metodologia à questão do agregar conhecimento, renovar questionamentos, fazendo com que os profissionais afastem-se do senso comum. “Nenhuma pesquisa poderá substituir o real processo histórico, pois, mesmo com objetivos a serem galgados, há uma lacuna entre a crítica científica e a naturalização já pré-estabelecida”. (p.28).
Ao possibilitar um procedimento amistoso e sem restrições, a tomada de consciência tende a advir da complexidade relacionada a impressões sociais e culturais, afastando-se de uma ortodoxia organizacional, comprometendo-se no alinhamento das ações coletivas. Sendo assim, a pesquisa-ação torna-se adaptável ao ambiente a ser pesquisado. A cientificidade tem por objetivo trazer o conflitante ao comprometimento das mudanças ao nível da imparcialidade.
Seu compromisso com a cientificidade, pois neste viés há sem dúvida um peso da pesquisa social levada muitas vezes a margens de questionamentos, provoca nos atores sociais uma inquietação a respeito de suas exposições, dando-lhes autonomia para que nas comunicações seus comportamentos também façam parte do processo.
“Nesta concepção da pesquisa, o ideal de cientificidade e objetividade é visto como busca de imparcialidade para retratar as visões de todos os atores da situação. Há também um esforço de busca de consenso entre pesquisadores para evitar os excessos de subjetividade. Os princípios de explicação são assumidos no processo de argumentação (ou deliberação) para que os pesquisadores e os demais participantes cheguem a aceitar como resultados as informações que se revelam mais adequadas tanto do ponto de vista teórico como do prático”. (p.30).
Contudo, podemos observar uma certa dificuldade da pesquisa ação em permear o contexto organizacional, levando em consideração a hierarquização destas, muitas vezes produtoras da “verdade absoluta” legitimando-se, e nestes cenários a pesquisa-ação tende a aplicar uma neutralidade e imparcialidade, interessando-se pela realidade e desvendando-a para que possa haver uma ação comum.
Cap. II – O Desenvolvimento da Pesquisa-ação
O compromisso científico da pesquisa-ação está em observar e descrever a realidade e especificidade nas organizações, equacionando suas intercorrências, neutralizando o posicionamento dirigente, até então tido por absoluto.
Ao propor pesquisa-ação, a obra aponta o contexto das ciências sociais aplicadas as organizações, a ponte entre ciências sociais aplicadas e ciências exatas, adaptadas as práticas profissionais de cada área.
A usabilidade da pesquisa-ação tornou-se oscilante dentro das expectativas sociais, bem como produções científicas, pois nem sempre houve um reconhecimento legítimo. Sua proposta de pesquisa é a diversidade de objetivos, diagnóstico, avaliação do ambiente organizacional e frente a esta pluralidade da pesquisa social, os atores tem a possibilidade de expor sua visão. Em seu discurso será possível observar as diversas linguagens. A partir das verbalizações faz-se necessário uma interpretação, instrumentos para nivelar e conhecer o público a ser pesquisado, ampliando então, o discurso ao nível interativo do material coletado à teorização.
A composição à pluralidade pretende adequar a organização à um modus operandi[2], condizente as estratégias corporativas. Havendo relevância nas discussões e exposições, estas são passíveis em conduzir problemas ao nível de comunicação.
Constituir a relação pesquisa e ação implica em interpretação, concepção. Não há observação distante, sem interação. É necessário que pesquisadores e colaboradores façam parte do processo juntos. Articulações entre pesquisadores e colaboradores ajustam-se a uma forma de conhecimento, participação. Assim, os objetivos são pensados e elaborados partindo dos princípios de conhecimento e mudanças.
Constituir a relação pesquisa e ação implica em interpretação, concepção. Não há observação distante, sem interação. É necessário que pesquisadores e colaboradores façam parte do processo juntos. Articulação entre pesquisadores e colaboradores ajustam-se a uma forma de conhecimento, participação. Assim, os objetivos são pensados e elaborados partindo dos princípios de conhecimento e mudanças.
Por muito tempo a pesquisa-ação não teve relevância enquanto pesquisa científica. “A pesquisa-ação constitui uma proposta de trabalho de pesquisa social que, nem sempre, é amplamente reconhecida do ponto de vista acadêmico. Suas flutuações dependem das [...] expectativas sociais extra-acadêmicas de grupos universitários, especialmente quando estes são levados a criticar a esterilidade de seus hábitos livrescos ou à falta de uso efetivo do conhecimento tradicional”.(p.33).
Os esclarecimentos vem a colaborar e estabelecer o grau de envolvimento dos pesquisadores e colaboradores, explorando assim, possibilidades, diálogos e ações, esta última após diagnosticar problemas através da observação e interação na rotina das organizações, bem como de seus atores, propõe autonomia aos colaboradores, em expor ao coletivo, problemas e na sequência ampliar discussões com os pesquisadores na busca de possíveis adaptações ou até mesmo soluções.
Quanto ao modo em articular a pesquisa-ação, esta pode e deve partir de um plano ou até mesmo partir da improvisação. “No contexto social ou cultural, qualquer ação adquire um significado e está associada a diversos símbolos e valorizações”. (p.36)
Nas organizações a pesquisa-ação com caráter de pesquisa social aplicada “é vista sobretudo como mecanismo de retroalimentação (feedback) dos resultados da investigação(...)”.(p.39). A idéia seria a de diagnosticar os problemas através da observação e interação na rotina das organizações, bem como seus sujeitos. Uma proposta de autonomia aos sujeitos em expor ao coletivo problemas pertinentes ao ambiente e com os pesquisadores discutir soluções possíveis.
Quanto a participação da pesquisa social aplicada em alguns países, há uma visão ampla e democrática. E mesmo sem grandes experiências no Brasil, seus objetivos circundam a premissa de colaboradores e pesquisadores atuantes no desenvolvimento organizacional. Ainda sobre a pesquisa-intervenção no país, o autor faz uma observação, “qualquer problema social ainda há pouco tendia ser visto como questão de disciplina ou de polícia.” (p.41).
Mesmo com muita resistência ao método, creditar ao conhecimento uma possível combustão social de informações e posicionamentos, proposta de melhorias, é proporcionar a construção e evolução corporativa.
Sendo assim, a pesquisa-ação tem um papel de assessoramento, pois vem a encorajar e equacionar os atores, frente a gestão da qualidade, delegando autonomia a estes, para que seja identificado problemas e venham a descrever possíveis soluções ao contexto.
Cap. III – Questões Gerais de Metodologia de Pesquisa Aplicada e de Diagnóstico
Quanto à pesquisa de metodologia aplicada e de diagnóstico, pesquisa que valoriza uma metodologia sedimentada na identificação de sintomas e resolução de problemas. No contexto de intervenção o termo diagnóstico é frequentemente utilizado por pesquisadores no que tange a tomada de decisão. Sua particularidade é a de não ser simplista e aventurar-se em uma prática metodológica impraticável.
“Um processo de diagnóstico é interativo quando os pesquisadores adotam uma metodologia que seja de natureza a possibilitar a ampla troca de informações com os interessados[...]A contribuição dos membros da situação é uma condição bastante satisfatória para o diagnóstico ser melhor informado e contextualizado, levando em conta as representações e os raciocínios expressos na linguagem dos interessados”. (p.53).
Na pesquisa de raciocino sob pressão há uma ênfase proporcionada ao que tange a instrumentalização à pesquisa-ação.
Na concepção de cultura e clima organizacional a pesquisa-ação ganha espaço, “melhorias as condições de trabalho, a redefinição de prioridades de gestão, a modernização da organização, melhorias de comunicação interna e externa, elaboração de programas de formação profissional, de reciclagem, de qualidade de vida no trabalho, a introdução de novas tecnologias”. (p. 57). Sendo assim, a proposta tende a produzir através da fase exploratória, de pesquisa aprofundada, de ação, de avaliação, mesmo quando aplicação é simultânea é possível observar-se uma progressiva conscientização dos envolvidos, sem que a pesquisa-ação venha a generalizar ações ou até mesmo ser apenas uma intenção de mudanças.
A responsabilidade em o ambiente tornar-se amistoso e democrático durante o processo de pesquisa-ação é tarefa de todos. Ouvir os sujeitos, suas críticas, colocações e interesses fazem com que uma extensão dos diálogos apontando modificações e ao contexto. Isso fará com que o comprometimento de todos possa fortalecer a postura frente às novas tomadas de decisões na fase exploratória, alinhando a relação entre sujeitos e pesquisadores, proporcionando uma prévia do ambiente a ser pesquisado.
Cap. IV – Planejamento do Projeto de Pesquisa-Ação
Além do diagnóstico o pesquisador, há de se preocupar com a interpretação do material coletado. “A fase exploratória tem a função de desencadear uma dinâmica entre os grupos de participantes da experiência, de modo a estruturar o processo da pesquisa-ação em seminários e produzir efeitos pela divulgação de resultados preliminares e o encaminhamento de propostas de ação”. (p. 66). A constituição de um ambiente na forma de seminários tende a criar uma atmosfera mais democrática, ponderando as ações frente aos resultados obtidos através da pesquisa na fase exploratória. No entanto, é possível também, por consenso trabalhar com composições de grupos nas elaborações. “Para auxiliar o trabalho do grupo permanente, especialmente em experiências de grande dimensão, podem ser constituídos “satélites” para aprofundar os estudos e a investigação”.(p.69).
Um diagnóstico empírico faz das coletas de informações, através de questionários, uma produção considerável para a condução e início da proposta de ação. E como ferramenta para acompanhamento dos resultados a formulação de questionários simples, de forma acessível quanto a linguagem dos sujeitos a serem questionados. Para isso, é necessário que as perguntas venham a ser elaboradas com base em problemas já percebidos na fase exploratória. “O objetivo é essencialmente uma apresentação dos resultados obtidos para causar, a curto prazo, um efeito de informação coletiva de “autoconhecimento” da organização acerca de seus problemas”. (p.75). Na fase de ação torna-se necessário estender a todos os resultados para então definir as novas ações atuantes em soluções. Por conseguinte, aqui será feita a divulgação dos resultados, que “além de informativo, seu objetivo é conscientizador”.(p.79).
Fazer com que este processo de verificação dos resultados deve-se dar prioridade aos balanços das situações expostas. “O procedimento de uso da pesquisa-ação na prática gerencial consiste em levantar as idéias do coletivo para buscar e encontrar soluções relativas a um amplo leque de problemas, desde a identidade da empresa, o gerenciamento de projetos, até a gestão de recursos Humanos.”(p.80). E na fase de avaliação, assimilar e determinar os conhecimentos obtidos, proporcionando e adequando a uma comunicação de efeito.
Cap. V – Pesquisa-ação sobre a Cultura Organizacional
A metodologia pesquisa-ação diante da cultura organizacional requer cuidados para que diante da linguagem utilizada na organização não venha a receber uma conotação pragmática e interpretada de acordo com os interesses de um grupo, intrinsecamente ligada à cultura organizacional. Contudo, a sucessão de novas idéias que serão alavancadas pelos pesquisadores aliados aos princípios e metodologia tem por tendência dar forma aos procedimentos da organização.
“A pesquisa-ação, ao lado de outras técnicas de diagnóstico e intervenção nas organizações, aparece como recurso particularmente adaptado para analisar o desenvolvimento social nas empresas e as mudanças (modernização, inovação, crises, transições, inclusive em sua dimensão cultural)”.(p.94).
Isso justifica o fato de, comumente, os dirigentes “fugirem” da pesquisa-ação ou não a aplicarem adequadamente, pois trabalhar o campo da cultura, diretrizes e identidades organizacionais é sinônimo de mudanças profundas na empresa. Contudo, tem-se a proposta de reconhecer-se na organização. Para que isso acontece faz-se importante conhecer primeiramente a identidade da organização. “A pesquisa-ação desencadeia um processo de autoconhecimento na organização. Esse objetivo é produzido pela pesquisa, pela divulgação e pela discussão coletiva dos resultados entre os interessados. O espaço de discussão criado pelo processo permite fazer evoluir os problemas, mesmo quando não são encontradas soluções definitivas para todas as instâncias”.(p.100).
Por isso, atentar aos cuidados entre linguagem e ação, pois constantemente geram crítica diante da linguagem utilizada na organização. Pois não obstante, é possível observarmos uma linguagem associada a um pragmatismo, e esta passa a ser interpretada de acordo com interesses de um grupo, intrinsecamente ligado a cultura organizacional.
Por fim, é na sucessão de novas idéias alavancadas pelos próprios pesquisadores aliadas a metodologia, tendem a dar forma aos procedimentos na organização.
Cap. VI – Linguagem e Ação
Na questão linguagem e ação torna-se necessário a interdisciplinaridade ao aplicar e construir uma linguagem adequada a interpretação e compreensão das informações. A interação favorece as comunicações no processo da pesquisa-ação, e a questão de semântica poderá surgir, equivocadamente, generalizando quando a idéia da pesquisa for particularizar, especificar.
“A predileção dos gerentes a cerca dos termos aperfeiçoamento ou aprimoramento tende a minimizar a descontinuidade ou a negar a oposição entre o real e o ideal. Aprimoramento é definido como ato de aprimorar, tornar mais primoroso, alcançar mais perfeição. O termo pressupõe que a situação já está muito boa. Nesta ótica dos gerentes os termos de descontinuidade são evitados em prol dos termos de descontinuidade, de acordo com os quais a situação vigente só precisa ser melhorada, nuca transformada”.(p.121).
Atentar a formulação de questionários e posteriormente a seus resultados recai sobre a melhor escolha pela linguagem a ser utilizada para se ter acesso aos colaboradores, que até então foram participantes do processo. Adaptar os resultados não apenas a linguagem mas, também a realidade da organização como um todo.
“Delimitar a linguagem aceitável por todas as partes constitui uma ação indispensável para conduzir a investigação [...] este princípio não significa que os atores que usam uma linguagem específica para defender seus interesses ou sua identidade devam renunciar a usá-la. As interpretações que eles fazem da experiência de pesquisa-ação podem permanecer em sua linguagem própria. É necessário uma linguagem “mínima”, que é justamente o resultado de um processo de negociação.” (p.123).
Frente a inúmeras propostas dos atores e pesquisadores a obra ainda faz referência as discussões e argumentações de ambas as partes: “De um lado, teorias ou explicações conhecidas em ciências sociais e, por outro lado, idéias ou descrições elaboradas pelos participantes [...]. Os resultados da pesquisa são expostos por meio de um discurso, cuja racionalidade se alcança pela explicação dos argumentos válidos, que operam nos raciocínios com os quais são analisados os fatos dos mundos objetivo e subjetivo”. (p.127-128).
Sendo assim, faz-se necessário uma certa flexibilidade no que refere-se aos discursos na comunicação. “A realização de uma pesquisa-ação com perspectiva comunicativa requer condições mínimas de democracia.[...]isto remete a uma discussão preliminar sobre a viabilidade e as condições de realização de uma experiência comunicativa”.(p.130). Pois, mesmo com recurso democráticos, acessibilidade e flexibilidade, é notório nas organizações a hierarquização com resquícios de autoritarismo, desta forma, temos a pesquisa-ação aliada a metodologias aplicáveis a estes.
Cap. VII – Qualidade X Quantidade e Uso da Informação.
Havendo intercorrências na pesquisa social é necessário atentarmos aos aspectos qualitativos e quantitativos, pois referindo-se a diversidade metodológica dados quantitativos tendem a orientar a pesquisa, mesmo que seu histórico como critério tenha sido prejudicada no passado da pesquisa social. Este histórico inclui manipulação tendenciosa principalmente na América Latina. “Com um certo recuo, no plano epistemológico, a oposição estabelecida entre técnicas quantitativas e técnicas qualitativas revelo-use como problema mal equacionado. As estruturas do conhecimento científico não excluem o quantitativo e o qualitativo. O qualitativo remete, no fundo, a uma questão de semântica da linguagem com a qual são descritas as situações observadas. O quantitativo, por sua vez, é voltado para a medição. Mas medição sem conceito ou sem apreensão qualitativa dos fenômenos não faz sentido”. (p.136).
Na década de 1960 e 1970 a discordância entre qualitativo e quantitativo tinha um cunho político, ocasionando uma clara inclinação por parte do sistema universitário ao uso indiscriminado de correntes como “positivismo”, “empirismo”, “funcionalismo”. (p.137).
As técnicas utilizadas tendendo à ideologias conservadoras resultam em um recrudescimento de métodos estatísticos.
“Os excessos da crítica ao “quantitativismo”, sua incapacidade de gerar alternativas convincentes em termos práticos, incitaram grupos ou centros de pesquisa a readotar padrões metodológicos mais convencionais. Todavia, a “chama” do espírito crítico permanece acesa em muitos grupos universitários até hoje”. (p.137).
A proposta de intervenção sociopolítica da pesquisa-ação ocasionou um afastamento do método por parte do sistema universitário. Diante deste quadro, as técnicas quantitativas e qualitativas foram trazidas pelos pesquisadores operacionais novas práticas nas últimas décadas. “[...]Desenvolvimento Organizacional e Sociotécnica [...] seu maior compromisso reside na implementação de soluções adequadas. Entretanto, tal proposta é pouco participativa, ou, quando o é, a participação limita-se ao círculo formado por consultores e grupo-clientes”. (p.139-140).
Apesar da tendência de pensamento, relaciona-se a questão metodológica da pesquisa-ação de dados quantitativos e qualitativos nas ciências sociais, hoje atua com função da possibilidade de informatização. A pesquisa-ação efetivamente necessita de instrumentos de coleta análise, processamento e apresentação de resultados do tipo quantitativo e qualitativo. Alguns desses serviços podem ser auxiliados por computadores, os programas, softwares, auxiliam nas tarefas de processamento de textos, (classificação, análise temática de depoimentos e entrevistas) e de dados quantitativos obtidos com a aplicação dos questionários. De um modo geral as estatísticas obtidas através da informática são usadas como base para o levantamento de dados quantitativos usando-se diversos programas de computadores para se levantar esses dados através de estatísticas descritivas e de cálculos, no caso da pesquisa social os dados quantitativos são obtidos através dos questionários de perguntas com respostas fechadas ou de respostas múltiplas preestabelecidas. É útil a reflexão metodológica para esclarecer a utilidade dos recursos microinformáticos que existem para auxiliar a pesquisa sem que o pesquisador se mantenha apegado ao método investigativo da pesquisa social.
A informática fortalece a pesquisa das ciências sociais, quando os dados obtidos nos questionários são armazenados em computadores, os dados são obtidos através de tabelas e histogramas seguindo a estatística do processo e é conhecido como princípios metodológicos chamado de empirismo exagerado. Nos anos 1950 e 1960, os empiristas foram criticados por limitarem a realidade social da pesquisa no que é quantificável e hoje esses limites se reportam aos dados sociais dos “pacotes” de computadores. O pesquisador não pode se deixar influenciar pelos métodos do empirismo pois pode utilizar a informática como instrumento para executar cálculos e processar dados quantitativos ou informações qualitativas, sem interferência na textualização dos dados obtidos. A informática não se adapta aos métodos de pesquisa ela apenas facilita e agiliza o trabalho do pesquisador que continua mantendo o conceito das pesquisas, independente dos recursos da informática.
Por conseguinte, os instrumentos auxiliam a pesquisa de dados quantitativos e os recursos da informática não substituem os conceitos teóricos, sempre qualitativos, produto da razão humana e da discussão entre pesquisadores e os interlocutores.
“Um recurso particularmente útil nas organizações é o questionário eletrônico. As perguntas aparecem em tela do computador e o próprio respondente escreve suas respostas. Por meio de programação específica, o questionário eletrônico armazena as respostas em base de dados e elas passam a ser objeto de cálculo para oferecer resultados numéricos quase instantâneos”. (p.143).
A necessidade de processamento de dados na pesquisa-ação é um recurso proveniente de esforços da coleta de dados, entrevistas, questionários. No entanto, ferramentas que agilizam o trabalho dos processamentos é um aliado tecnológico, capaz de organizar, calcular otimizando o tempo da pesquisa.
4 Conclusão do Autor
Ao final do capítulo I, o autor discorre sobre presença da neutralidade e imparcialidade como compromisso da pesquisa-ação. Este interesse deve permear todo o ambiente organizacional, pois o compromisso científico da pesquisa-ação em descrever as realidades e especificidades, equacionando suas intercorrências, neutralizando o posicionamento dirigente, até então tido por absoluto.
No capítulo II, é exposta a maneira, a metodologia utilizada para que se possa desenvolver a pesquisa-ação, para isso, algumas soluções visam propostas a curto e médio prazo. No entanto, problemas socioorganizacionais dependem de critérios e alternativas relevantes ao contexto organizacional. Com isso, a pesquisa-ação como fonte de informação, com autonomia de intervir no ambiente organizacional, abre um leque de opções em estudos e análises quanto a resolução de problemas, não apenas no âmbito da organização, mas também específicos de cada sujeito, de modo geral, revendo e repensando a organização em seus níveis.
O capítulo III, Thiollent refere-se às questões de metodologia e diagnósticos da pesquisa-ação, expondo as possíveis dificuldades que poderão ser encontradas ao uso de generalizações ao termo pesquisa aplicada, pois esta é tida como um fio condutor à pesquisa, porém não a única. Ainda, que a pesquisa-ação nas organizações é aplicada com o intuito de diagnosticar problemas e projetar soluções partindo da participação efetiva dos colaboradores em todos os níveis, atentando sempre a relevância das informações.
No capítulo IV, o autor expõe as premissas do planejamento do projeto de pesquisa-ação, que vem a propiciar um possível comprometimento dos sujeitos. Este contexto requer objetividade e comprometimentos a cerca da importância da observação das ações, propondo formação de grupos para que o processo tenha caráter interativo e conjunto, sem excluir ou marginalizar alguém por não adaptar-se às imposições.
Encontramos no capítulo V apontamentos sobre a pesquisa-ação e a cultura organizacional, aspectos entre linguagem e ação que ocasiona interpretações diferentes gerando críticas, a semântica passa a ser uma vilã na linguagem utilizada nas organizações. Ao identificar-se os sujeitos, colaboradores nas organizações é necessário apresentar, interpretar, potencializar interesses, otimizando a linguagem na cultura.
No capítulo VI, Thiollent discorre a respeito da linguagem no processo de pesquisa-ação, e suas metodologias aplicáveis aos recursos democráticos. A interdisciplinaridade é utilizada no nível de compreensão para não comprometa e estimule os resultados à tendências específicas e particulares. Contudo, cabe ao pesquisador criar um ambiente onde possa-se negociar as comunicações e estimular as participações.
Por fim, o capítulo VII tem um cunho esclarecedor a respeito da pesquisa quantitativa e qualitativa, onde há uma busca pela medição e uma busca pela descrição e interpretação dos fatos, respectivamente. Tem-se a idéia em aperfeiçoar dados, transformados em informações na pesquisa-ação, objetiva a intensificação dos resultados da pesquisa na pesquisa social. Organizar e adaptar os procedimentos do desenrolar da pesquisa-ação nas organizações instiga a metodologia ao uso dos computadores, permitindo, através da internet um espaço saudável de intensificação das discussões, exposições, com o intuito de difundir e propagar informações.
5 Quadro de Referências do Autor
Com base em experiências de comportamento social e político dos anos 1960 na América Latina, pesquisa-ação e pesquisa-ação participante nos EUA e no Canadá, Thiollent abrange em sua obra inúmeras discussões e divergências acerca de tendências mundiais e a complexidade de aceitação da proposta de pesquisa-ação por universidades, organizações entre outras.
É constante a associação de opiniões no decorrer da obra, onde é possível verificarmos a exposição, discussões e apontamentos de profissionais. Também expõe resultados desta pesquisa metodológica de técnicas de investigação e construção de conhecimentos passíveis de amadurecimento, que por muitos anos pôde ser confundido pela perspectiva do atrevimento.
6 Apreciação/ Crítica do Resenhista
Acredito ser esta obra de suma importância ao ambiente acadêmico, pois tratando-se de pesquisa em ciências sociais aplicada o autor nos trás uma originalidade no que refere-se a pesquisa na contemporaneidade. A aplicabilidade desta metodologia proporciona democracia a pesquisa acadêmica, agregando conhecimento. Com isso, sua abordagem é objetiva e propicia a renovação de questionamentos acerca da pesquisa-ação.
Há muito perceptível em suas falas uma coerência no que refere-se a efetiva presença dos atores, colaboradores das organizações em todos os processo, possibilitando um ambiente amistoso, apesar de inevitáveis complexidades, aproximá-los da tomada de decisões. Contudo, o autor oportuniza no decorrer dos capítulos um ambiente adaptável, referindo-se a cientificidade dos objetivos da pesquisa-ação, que tem por comprometimento distanciar os atores do senso comum.
Crítica: Para que legitime-se a pesquisa-ação nas organizações faz-se necessário não apenas um comportamento, mas conhecimento prévio sobre as ações, metodologias a serem aplicadas.
7 Indicações do Resenhista
A obra de Thiollent serve de referência à acadêmicos, pós-graduandos, especialistas, pesquisadores e profissionais das áreas de ciências sociais aplicadas, ciências sociais, educação, ciências humanas, ciências da computação, ciências da informação, lingüística.
Apesar de haver uma vasta relação da obra com inúmeras áreas do conhecimento, esta metodologia de pesquisa passa a ser interessante e condizente com as necessidades das organizações em busca de atualizarem-se para atender as expectativas e tendências de mercado através do conhecimento.
Um comentário:
Caro Eli,
Não li. Mas deve ser muito interessante. Parabéns pelo post.
Patrícia - BH - MG
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