“Que ideias guiam nossos sentimentos? Responder
a esta questão é tarefa da estética. [...]
Que ideias
orientam nossa conduta? Responder a esta questão é tarefa da ética.
[...] A lógica, por fim, estuda os ideais e normas
que conduzem o pensamento. “ (SANTAELLA, 2010, p. 2, grifo nosso). A estética é
base para a ética que, por sua vez, é base para a lógica.
A escolarização, parte de nossa educação, na maioria das
vezes se prende somente aos aspectos da lógica e determina normas,
procedimentos, define planos que devem ser seguidos, sem a preocupação de
vinculação com a ética e estética. Em alguns casos, a ética figura nos
planejamentos, como, por exemplo, do ensino por competências que planeja o
processo de escolarização baseado no Conhecimento, Habilidades e Atitudes (CHA),
sendo o primeiro e último aspectos relacionados à ética e o do meio pertencente
à lógica.
E a estética, que é a base de tudo? Na maioria das vezes,
fica de fora.
Como o sujeito pode ter conhecimentos e habilidades (pensamento
- questão lógica), e atitudes (comportamento - questão ética), sem
um sentimento (questão estética) que vincule seu comportamento às suas
ações?
Para responder este questionamento, creio eu, é necessário articular
formas de afetar o sujeito: “o afeto ou sentimento não é propriamente um
estado, mas a passagem, o movimento, a transição, a variação de um estado a
outro. O afeto é a variação contínua da potência de agir de alguém, determinada
pelas ideias que ele tem” (MACHADO, 2010, p. 77).
Para Deleuze e Parnet (2004) afetos são devires, ou seja,
vir a ser, tornar-se. Nossa potência de agir aumenta à medida que somos
afetados por corpos que nos tornam superiores, pois nos traz alegria; ao
contrário, nos tornamos mais fracos e nossa potência de agir diminui quando as
relações com outros corpos nos decompõem (tristeza).
Creio eu ser possível utilizar um objeto, concreto ou
abstrato, para afetar as pessoas. Poderíamos utilizar, por exemplo, a arte:
como a dança, o teatro, a música, as artes plásticas. Escolho as mídias
digitais que incluem não apenas os equipamentos (computadores, tablets, celulares), mas tudo aquilo que
somos capazes de fazer com eles.
Nenhum planejamento de uso das mídias, como de qualquer
outro objeto, daria certo se as pessoas não fossem afetas pelo objeto e pelas
outras pessoas. E acredito que a mediação é a chave para a criação dos afetos.
A mediação coincide com a ideia de movimento, de transição e variação de um
estado a outro, como afirmamos agora há pouco. Não é algo de cima para baixo,
mas um movimento horizontal, de parceria, de pegar na mão e fazer juntos.
A proposta que apresentamos aos professores dos Centros
Educacionais Pedro dos Santos e Roberto Machado foi diferenciada porque levou a
mediação e o afeto em conta. Mais que uma ideia de formação docente para as
mídias digitais, nos propusemos a planejar e executar junto com os professores
as aulas. Para isto, a hora atividade foi fundamental.
Dois pensamentos guiaram nossas práticas para que este
projeto fosse possível: um, de cunho filosófico, baseado na ideia de rizoma de
Deleuze, que nos permitiu ver a educação com uso de mídias digitais não em
forma hierárquica nem linear, mas rizomática. Outra, de cunho pedagógico,
baseado na teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM) de Reuven
Feuerstein. Fomos para as escolas acreditando que ninguém seria obrigado a
participar do projeto. Poderia entrar quem e quando quisesse. Para sair a mesma
coisa, poderiam sair quem e quando pretendesse. Uma vez participante do
projeto, o professor sabia também que não haveria receitas prontas de quais
mídias utilizar nem quando, mas sim um conjunto de possibilidades de uso.
E assim aconteceram 46 reuniões realizadas em 9 meses (março
a novembro de 2015). Algumas com duração pequena, de 15 a 30 minutos, para dar
algum encaminhamento de replanejamento, outras que ocuparam um turno inteiro de
4 horas.
Foram dezenas de aulas, das quais 18 mediadas e registradas
pessoalmente. O registro de campo deste trabalho resultou em 223 páginas.
Cada reunião foi registrada em uma minuta de reunião que, além de deixar registrado as discussões, destacava as ações que
cada um faria depois da reunião.
Era preciso, sobretudo, que as pessoas fossem afetadas por este movimento de mediação, de fazer juntos. Além do
trabalho realizado pelos professores com seus alunos, houve algumas publicações
de trabalhos em eventos. Em 2015 entre resumos expandidos e artigos completos,
foram 5 publicações.
Desde 2013, quando entramos em Rio do Sul para trabalhar
com estes professores, eles foram afetados por esta parceria com o Senac, o que
resultou em publicações em congressos em 2013 e 2014.
Voltando às questões da lógica, ética e estética, que
apresentamos no início, podemos dizer que primeiro o sujeito precisa ser
afetado (estética), para que o seu comportamento (ética) seja tal que ele se
comprometa com aquilo que se propõe a fazer (lógica).
Em relação à 1ª. Mostra de Mídias Digitais: anos finais do
ensino fundamental, vocês, nossos convidados, encontrarão 4 ambientes:
·
Ambiente aula – um auditório, espaço para 10
miniaulas dadas pelos alunos, todas elas com mídias digitais que foram utilizadas
por eles em sala de aula; e 4 momentos de relatos de experiências dos
professores.
·
Ambiente jogos – um espaço onde o público
poderá jogar, todos também foram objetos de uso das professoras do CE Roberto
Machado e CE Pedro dos Santos.
·
Ambiente exposição – com apresentação de
trabalhos dos alunos.
·
Ambiente vídeos – nos corredores do Senac, com
vídeos produzidos pelos alunos e outros que mostram curtos episódios de parte
do que aconteceu ao longo deste ano de 2015. Visitem todos, pois produzimos
vídeos curtos, entre 2:18 e 7:07 para que pudessem servir de uma pequena mostra
realmente de parte do que aconteceu.
Meus agradecimentos à Silvana Pamplona do Senac, pela
parceria incansável no projeto. Às diretoras Marineusa e Cristiani que abriram
as portas das escolas para este projeto; a todos os professores e alunos.
Para fechar, ouso falar em nome próprio para dizer que
gostaria que neste país tivéssemos a seguinte lei:
Art 1.
Toda criança tem direito de utilizar as tecnologias disponíveis em qualquer
escola de seu domicílio (município), sejam elas computadores ou laboratórios de
ensino, independentemente de sua condição de pagamento para o uso.
Parágrafo
único: Os estabelecimentos privados de ensino se reservam ao direito de manter
as aulas exclusivamente para seus alunos devidamente matriculados, mas se
comprometem a disponibilizar horários para que o caput deste artigo seja
cumprido.
Gostaria de chamar aqui a aluna Heloisa para dar um
depoimento sobre o que vivenciou ao longo do período letivo de 2015 com as
mídias digitais.
Muito obrigado!
REFERÊNCIAS
DELEUZE,
Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Rio de Janeiro: Relógio D’agua
editores, 2004.
MACHADO, Roberto. Deleuze,
a arte e a filosofia. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.
SANTAELLA, Lucia. Semiótica
Aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
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