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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

TDIC e Educação, para além das TDIC.


EVENTO: IV SEMINÁRIO WEBCURRÍCULO – PUC SP

Palestra: TDIC e Educação, para além das TDIC.
António Dias Figueiredo, Universidade de Coimbra

Coordenação/interlocução: Alípio Dias Casali (PUC-SP)


TRANSCREVO A SEGUIR O QUE CONSEGUI DIGITAR DA PALESTRA DO PROFESSOR ANTÓNIO DIAS FIGUEIREDO.


Nos próximos 40 anos as universidades vão mudar mais que nos últimos 400.

Cada ano de um encontro um seminário periódico é uma encruzilhada. Neste caso são 40 anos celebrados pelo programa de pós-graduação da PUC SP.

Também são 40 anos após os primeiros debates sobre computadores na educação.

Há mais de 30 anos começaram as primeiras iniciativas nacionais em Portugal e no Brasil.

Passados estes anos, fica a pergunta: será que a educação estará melhor?

Será que formamos cidadãos mais preparados para o mundo em que vivemos?

Penso que as TDIC só estarão plenamente integradas na educação, quando deixarmos de precisar de falar delas.

Uma maçaneta de porta só estará plenamente integrada em nossa vida, se não tivermos que pensar nela para fechar e abrir a porta.

Se tivermos de pensar na maçaneta, então porque ela é um problema.

Cada no de um encontro ou seminário periódico, como dito antes, é uma encruzilhada.

A questão é: será 2015 o ano para pensar começando as TDIC para além das TDIC.

Quatro pontos:

  1. Em que mundo vivemos?
  2. Redescobrir a educação.
  3. Reinventar a pedagogia.
  4. Inovar na educação.


Sabemos que a educação é um sistema muito conservador.

  1. Em que mundo vivemos?

    Vivemos em um mundo global, de mudança, sem fronteiras, centrado no conhecimento, onde todos competem com todos. As economias locais estão perdendo expressão porque estão dependentes deste mundo global.
    A capacidade para produzir valor se tornou fator de sobrevivência.
    Os menos competentes neste mundo estão sendo substituídos pelos que, em outras partes do mundo, oferecem melhor resposta.
    Hoje em dia é possível um trabalho que não possa ser bem feito aqui ser feito em outro lugar.

    Os grandes desafios do mundo de hoje:
    Abundância: para competir, não bata preço e qualidade. Tem de haver diferença.
    Automação: todo o trabalho que puder ser automatizado será automatizado.
    Deslocalização: todo o trabalho que puder ser deslocalizado, será.
    Precarização do emprego: emprego estável está sendo substituído por emprego precário: free lance, etc.
    Degradação de valores: predomínio da lógica do mercado sobre a lógica da cidadania está degradando os valores morais.

    Que escolas temos nós para esse mundo?
    Ameaças: escolas distantes desta realidade, cumprindo a missão tradicional de produzir bons funcionários.
    Oportunidades: escolas criando cidadãos capazes de exercer autonomamente sua capacidade para criar valor e empreender.

    Contrastes da era industrial e era social:

ERA INDUSTRIAL
ERA SOCIAL
Aprendizagem disciplinar
Aprendizagem multidisciplinar
Visão industrial e uniformizadora da aprendizagem
Visão orgânica, social e diferenciadora da aprendizagem
Aprendizagem como transferência de conhecimento
Aprendizagem como construção e transformação
Predominância da autoridade, hierarquia e dependência
Predominância da colaboração, autonomia e interdependência
Elogio da uniformidade e docilidade
Elogia da diferença e criatividade
Primado da quantidade
Qualidade com quantidade



  1. Redescobrir a educação

    Um marciano visita a Terra, estuda os progressos dos terráqueos e tenta perceber como é que eles educam as novas gerações para este mundo.
    Por que será que nesse mundo, que necessita tanto de diferença e de complementaridade, os sistemas educativos insistem em construir industrialmente a uniformidade?

    Por que será que os sistemas educativos insistem em adestrar os alunos para serem:
    ouvintes em vez de concretizadores?
    seguidores em vez de líderes?

    Os estudiosos da realidade social dos nossos dias criticam a insistência exclusiva na hipótese cognitiva e acentuam a importância vital das competências não cognitivas (soft skills) para o sucesso de um cidadão dos nossos dias.

    Falta capacidade de auto-regulação (impulsos, distrações, emoções, ansiedade, stress, disciplina), empatia, persistência, curiosidade, autoconfiança, capacidade para gerir o insucesso, tolerância à incerteza, capacidade para gerir o insucesso.

    Por que será que, sendo o ser humano neuronalmente equilibrado (hemisférios direito e esquerdo com suas capacidades), os sistemas educativos insistem que seja distorcido?
    Por que será que se insiste em que ensinar é, basicamente, explicar?
    Por que será que se insiste em que aprender é basicamente mostrar que se percebeu?
    Não será verdade, como exorta Paulo Freire, que ensinar é criar cidadãos autônomos.
    Felizmente, começa a haver decisores educacionais que reconhecem o absurdo.

    O grande problema não é a epistemologia do professor. O grande problema é a epistemologia do sistema. O sistema é que paralisa o professor.

    Há exemplos de experiências educativas diferentes. Estes exemplos são motivos de esperança.

  2. Reiventar a pedagogia

    Alguns desafios:

  1. Referenciais teóricos.
    O estado da arte parece ter parado há trinta anos.
    Os grandes autores, as grandes teorias, os conceitos, são os citados há 30 anos.
    Há muitos “remixes” dos conceitos antigos.
    Não estou desvalorizando o capital de conhecimento que se acumulou. Pelo contrário, tenho muito respeito por referenciais que remontam pelo menos ao tempo dos Gregos.
    Mas estou dizendo, com Fernando Pessoa: “o essencial é saber ver [...] isto exige um estudo profundo, uma aprendizagem de desaprender”.

    Estou sugerindo, como Jacques Derrida, que a desconstrução pode conter o embrião do futuro: na ausência da reflexão crítica sobre as ideias dominantes, o futuro será igual ao passado.

    Os avanços dos últimos trinta anos em domínios chave: neurociências, psicologia, ciências sociais, ciências de redes, teorias da complexidade, teorias da gestão da qualidade, têm sido, na sua maior parte, ignorados.

  2. Emoção:
    É preciso voltar a pôr emoção em educação.
    A frieza das altas tecnologias impõe uma contrapartida de calor humano: quando mais tecnológica é uma sociedade, mais necessita de compensações ao nível dos valores humanos e da afetividade.

    É aqui que se situa, a meu ver, a função chave de uma escola reinventada: dar estrutura a um mundo da diversidade, fornecer os contextos e saberes de base para uma autonomia de sucesso nesse mundo.

  3. Autonomia:
    A dependência dos alunos relativamente a ensinamentos enlatados e pré-mastigados e a sua falta de autonomia e iniciativa atingiu os limites do insustentável.
    As tecnologias têm dado contribuições importantes para gerar autonomia.
    Dois exemplos são: blended-learning e flipped learning.

    Já há sistemas escolares formando professores para tal.
    As tecnologias têm permitido, também, integrar atividades indutoras de autonomia: projetos, blogs, simulações, jogos.

    Começa-se a compreender a importância de avaliar trabalhos apresentados perante audiências genuínas.

  4. Avaliação
    Começa-se a compreender, também, a necessidade de instrumentar a autonomia: redes de conceitos, objetos mediadores, várias ferramentas tecnológicas.

    Conseguindo de alguma forma mais autonomia, torna-se possível começar a desenvolvê-la sistematicamente, e tirar partido dela ao nível da avaliação.

    Uma avaliação rigorosa, pelos pares, por exemplo, é um processo possível.
    É preciso fazer colaboração, co-avaliação, co-aprendizagem, co-evolução.

    Torna-se então indispensável instrumentar a avaliação autônoma.

  5. Controle
    Com alunos mais autônomos e capazes de coparticipar na avaliação, surgem condições para transferir para os alunos o lugar do controle.
    E assegurar que eles passam a intervir no próprio desenvolvimento do curso.
    Ter-se-á conseguido, então, finalmente, a genuína aprendizagem centrada no aluno.

  6. Discurso pedagógico:
    Há que libertar o discurso pedagógico da dependência induzida pelo modelo social da aula magistral medieval os discursos scripto, áudio, vídeo.

    Um professor falando em um vídeo é um orador medieval falando do púlpito para seu público. É a reprodução da retórica medieval.


  1. Inovar na educação

    Inovação disruptiva: dirigem-se às pessoas que não têm outras soluções. Normalmente germinan em contexto pouco exigentes e com caráter exploratório.

    Do ponto de vista da sociologia da inovação, os sistemas educativos são redes de atores que se reforçam mutuamente.

    Alguns peritos em inovação consideram que nestes ecossistemas conservadores é impossível produzir inovações com efeitos duradores. A inércia dos sistemas dilui ou distorce as inovações e converte-as para a uniformidade reinante.

    É como regar no deserto.

    Indicação do livro DISRUPTING CLASS de Clayton M. Christensen.

    Exemplos de inovações disruptivas em educação: cursos on-line em áreas que as escolas não cobrem.
    Escolas-piloto explorando novos modelos pedagógicos.
    Escolas experimentais promovendo mudanças transformacionais em comunidades sociais degradadas nas quais se integram.

    Enquanto as experiências pedagógicas ditas inovadoras se centrarem na utilização pedagógica mais ou menos instrumental de computadores, tablets, celulares, ou redes sociais, e não numa educação mais alargada, mais sustentável, mais duradora, mais cidadã, as TDIC continuarão dominando artificialmente as agendas de pesquisa.

    CONCLUSÕES

    Em matéria de TDIC na educação está havendo muito pouca inovação genuína que se propague e permaneça no sistema. A inovação não está acontecendo porque não estamos conseguindo criar: contextos culturais que se sustentam. São raros os poderes políticos capazes de mobilizar as mudanças culturais na educação. E isso não é novo na educação.

    O que é novo e não era possível há 4 anos, é que hoje os professores, pais e cidadãos interessados na renovação da educação, podem se mobilizar, por exemplo, em redes sociais.

    Os professores, pais e cidadão, podem promover a educação de forma construtiva.






Um comentário:

Ariane Copetti disse...

Olá Professor Eli,

Fui sua aluna na pós do SENAC em 2013. Enviei um e-mail no endereço do SENAC (eli@prof.sc.senac.br), mas não sei se você ainda é professor lá. Poderias me passar um e-mail atualizado? Tenho uma dúvida sobre referências de e-book. Vou copiar aqui o e-mail que escrevi.

Obrigada pela atenção.
Abraço!
Ariane Marques (terrariane@gmail.com)

Olá Professor Eli,

Bom dia! Tudo bem?

Fui sua aluna na pós graduação no SENAC em 2013.

Hoje estou fazendo um trabalho como redatora para conteúdo EAD e me peguei em uma encruzilhada.

Pensei que talvez você pudesse me dar uma luz..:(

Me deparei com a citação de um texto de Shakespeare e não sei como fazer para citar o mesmo e tão pouco as referências.

O e-book citado pelo conteudista que montou a disciplina de Literatura está em: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/hamlet.html.

Por ser um Copyleft de Ridendo Castigat Mores ano 2000. Eu fiquei na dúvida de como referenciar isso.

Será que está certo eu colocar nas referências assim:

SHAKESPEARE, William. A Trágica História de HAMLET Príncipe de Dinamarca (1603). Edição: Ridendo Castigat Mores, 2000. Fonte Digital: www.jahr.org. Disponível em: Acesso em: 3 out. 2015)


E quando cito partes do texto de Hamlet, coloco que é de Shakespeare (1603) ou do cara que editou no ano de 2000.?

Fiquei mesmo na dúvida. :|

Tipo assim:

, leia o fragmento abaixo de Hamlet (SHAKESPEARE, 1603), uma das mais famosas obras do dramaturgo, no qual o fantasma do pai de Hamlet faz a revelação central da tragédia.

Será que existe uma norma diferente para isso? Se puder me dar uma ajudinha..


Agradeço

Atenciosamente,

Ariane Marques Copetti
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