As práticas pedagógicas que se baseiam no par estímulo-resposta, ou
seja, aquelas nas quais os alunos respondem ao que já está constituído, pronto,
definido; embora possam contribuir para a aprendizagem, se limitam a formar um
sujeito com competências tão somente para repetir práticas ou pensamentos
pré-estabelecidos. O movimento contrário destas práticas seriam aquelas nas
quais o estudante possa construir conhecimento de tal forma que sua
individualidade no processo de apropriação das ideias seja o elemento que faz a
diferença em favor da sua aprendizagem. Assim, no que diz respeito às práticas
pedagógicas, enquanto as primeiras (estímulo-resposta) poderiam estar no âmbito
do par possível/real, as outras, que dão ao aluno a possibilidade de
individualização, trabalhariam na perspectiva do par virtual/real.
Lévy (1996) argumenta
que o possível é o real latente, ou seja, é aquilo que já está constituído,
faltando-lhe tão somente a existência, pois o “possível se realizará sem que
nada mude em sua determinação nem em sua natureza” (LÉVY, 1996, p.16). Desta
forma, como argumenta o autor, existe uma diferença puramente lógica entre o
possível, que está pronto para realizar-se e a sua realização. No que tange às
práticas pedagógicas, poderíamos dizer que aquelas que privilegiam as relações
de estímulo-resposta vão ao encontro desta perspectiva de tornar real o
possível.
O contrário disto
é o par virtual/atual, onde o movimento de atualização requer um processo de
atualização do virtual que não é uma mera realização, mas um processo de
criação, de resolução de problemas. Na perspectiva apontada por Lévy (1996)
trata-se do que ele chama de um complexo problemático que, através de um
acontecimento, abre-se para a atualização. É um processo de singularidade, como
mostra Deleuze (1996, p.51): “A atualização pertence ao virtual. A
atualização do virtual é a singularidade, ao passo que o próprio atual é a
individualidade constituída. O atual cai para fora do plano como fruto, ao
passo que a atualização o reporta ao plano como àquilo que reconverte o objeto
em sujeito.”.
No caso das
práticas pedagógicas, aquelas que consideram esse processo de singularidade, de
individualidade, na perspectiva do par virtual/atual, são práticas abertas,
contrárias às outras que são fechadas.
A
virtualização é, portanto, o movimento inverso da atualização, como aponta Lévy
(1996). Tomando essas considerações aqui elaboradas de que o virtual é aberto à
atualização, enquanto o potencial se limita à realização, poderíamos questionar
em quais momentos o professor, na criação de problemas para o aluno resolver,
estaria atuando na perspectiva do par virtual/atual ou do par potencial/real.
Quando o professor
parte de uma solução para criar um problema que fica fechado, delimitado ao
extremo, visando que o aluno apenas descubra aquilo que, de certa forma, já
está dado, constituído; tem a ver, neste caso, com o par possível/real. Assim,
descobrir, tem o mesmo sentido de tirar a coberta. Como aquilo que se faz em
brincadeira de criança, o “esconde-esconde”, no qual o adulto se esconde ou
esconde um objeto para a criança “descobrir”.
Por outro
lado, quando mesmo partindo de uma solução, a criação do problema gera algo
aberto para que o aluno tenha a possibilidade de criar, de ir além da
descoberta, o que se tem é o par virtual/atual. Neste caso, a individualização
do aluno permite a construção de conhecimento não somente para si, como para o
docente que propôs a atividade, pois o processo de atualização gera um novo
problema.
Pensando
desta maneira, o docente que cria um problema aberto, a partir de uma
solução, está fazendo o processo de
virtualização e, desta forma, está não apenas encobrindo a solução (o que seria
seu papel se fosse o par possível/real), mas reelaborando uma nova estrutura, pois
um problema criado a partir de uma solução, nesta perspectiva, nunca é o
problema que gerou aquela solução, mas outro problema que, por sua vez, irá
gerar uma nova solução. Esse processo pode ser visualizado na figura 1.
Figura 1 - processos de virtualização
Fonte: o autor (2013)
Como se pode ver na figura 1, um problema (virtual) permite soluções
(atualização). Mas a virtualização desta solução, ao invés de voltar ao
problema que original, gera um novo problema, do qual a atualização vai gerar
uma nova solução e assim sucessivamente.
Finalizando, o
que se espera de docentes com práticas pedagógicas que considerem o par
virtual/real é que a criação de problemas por parte do professor possibilite ao
aluno tornar-se singular e não um mero repetidor de respostas. Muitas vezes o
professor cria um problema tão fechado para que o aluno resolva, de tal sorte
que o problema já é idêntico à solução, só faltando realizar-se. A
virtualização, na perspectiva da criação de problemas como prática pedagógica,
somente vai resultar em aprendizagem se considerar o par virtual/atual como
perspectiva de atuação.
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. O atual e o virtual. In: ALLIEZ, Éric. Deleuze filosofia virtual. São Paulo: Ed. 34,
1996. p.47-57.
LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Ed. 34,
1996.
2 comentários:
Dá-lhes Deleuze!!!!
Interessante postagem... sou minha dissertação e minha tese são no conceito de virtualização da aprendizagem... boa contribuição a sua, tendo em vista que existe muito pouco de pesquisa nessa área da virtualização na perspectiva da aprendizagem.
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