Acessos

terça-feira, 16 de abril de 2013

Virtualização como prática pedagógica




As práticas pedagógicas que se baseiam no par estímulo-resposta, ou seja, aquelas nas quais os alunos respondem ao que já está constituído, pronto, definido; embora possam contribuir para a aprendizagem, se limitam a formar um sujeito com competências tão somente para repetir práticas ou pensamentos pré-estabelecidos. O movimento contrário destas práticas seriam aquelas nas quais o estudante possa construir conhecimento de tal forma que sua individualidade no processo de apropriação das ideias seja o elemento que faz a diferença em favor da sua aprendizagem. Assim, no que diz respeito às práticas pedagógicas, enquanto as primeiras (estímulo-resposta) poderiam estar no âmbito do par possível/real, as outras, que dão ao aluno a possibilidade de individualização, trabalhariam na perspectiva do par virtual/real.
                Lévy (1996) argumenta que o possível é o real latente, ou seja, é aquilo que já está constituído, faltando-lhe tão somente a existência, pois o “possível se realizará sem que nada mude em sua determinação nem em sua natureza” (LÉVY, 1996, p.16). Desta forma, como argumenta o autor, existe uma diferença puramente lógica entre o possível, que está pronto para realizar-se e a sua realização. No que tange às práticas pedagógicas, poderíamos dizer que aquelas que privilegiam as relações de estímulo-resposta vão ao encontro desta perspectiva de tornar real o possível.
                O contrário disto é o par virtual/atual, onde o movimento de atualização requer um processo de atualização do virtual que não é uma mera realização, mas um processo de criação, de resolução de problemas. Na perspectiva apontada por Lévy (1996) trata-se do que ele chama de um complexo problemático que, através de um acontecimento, abre-se para a atualização. É um processo de singularidade, como mostra Deleuze (1996, p.51): “A atualização pertence ao virtual. A atualização do virtual é a singularidade, ao passo que o próprio atual é a individualidade constituída. O atual cai para fora do plano como fruto, ao passo que a atualização o reporta ao plano como àquilo que reconverte o objeto em sujeito.”.
                No caso das práticas pedagógicas, aquelas que consideram esse processo de singularidade, de individualidade, na perspectiva do par virtual/atual, são práticas abertas, contrárias às outras que são fechadas.
                A virtualização é, portanto, o movimento inverso da atualização, como aponta Lévy (1996). Tomando essas considerações aqui elaboradas de que o virtual é aberto à atualização, enquanto o potencial se limita à realização, poderíamos questionar em quais momentos o professor, na criação de problemas para o aluno resolver, estaria atuando na perspectiva do par virtual/atual ou do par potencial/real.
                Quando o professor parte de uma solução para criar um problema que fica fechado, delimitado ao extremo, visando que o aluno apenas descubra aquilo que, de certa forma, já está dado, constituído; tem a ver, neste caso, com o par possível/real. Assim, descobrir, tem o mesmo sentido de tirar a coberta. Como aquilo que se faz em brincadeira de criança, o “esconde-esconde”, no qual o adulto se esconde ou esconde um objeto para a criança “descobrir”.
                Por outro lado, quando mesmo partindo de uma solução, a criação do problema gera algo aberto para que o aluno tenha a possibilidade de criar, de ir além da descoberta, o que se tem é o par virtual/atual. Neste caso, a individualização do aluno permite a construção de conhecimento não somente para si, como para o docente que propôs a atividade, pois o processo de atualização gera um novo problema.
                Pensando desta maneira, o docente que cria um problema aberto, a partir de uma solução,  está fazendo o processo de virtualização e, desta forma, está não apenas encobrindo a solução (o que seria seu papel se fosse o par possível/real), mas reelaborando uma nova estrutura, pois um problema criado a partir de uma solução, nesta perspectiva, nunca é o problema que gerou aquela solução, mas outro problema que, por sua vez, irá gerar uma nova solução. Esse processo pode ser visualizado na figura 1.

 Figura 1 - processos de virtualização















Fonte: o autor (2013)


Como se pode ver na figura 1, um problema (virtual) permite soluções (atualização). Mas a virtualização desta solução, ao invés de voltar ao problema que original, gera um novo problema, do qual a atualização vai gerar uma nova solução e assim sucessivamente.
                Finalizando, o que se espera de docentes com práticas pedagógicas que considerem o par virtual/real é que a criação de problemas por parte do professor possibilite ao aluno tornar-se singular e não um mero repetidor de respostas. Muitas vezes o professor cria um problema tão fechado para que o aluno resolva, de tal sorte que o problema já é idêntico à solução, só faltando realizar-se. A virtualização, na perspectiva da criação de problemas como prática pedagógica, somente vai resultar em aprendizagem se considerar o par virtual/atual como perspectiva de atuação.

REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. O atual e o virtual. In: ALLIEZ, Éric. Deleuze filosofia virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996. p.47-57.

LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996.


2 comentários:

Patrícia disse...

Dá-lhes Deleuze!!!!

Patricia Grasel disse...

Interessante postagem... sou minha dissertação e minha tese são no conceito de virtualização da aprendizagem... boa contribuição a sua, tendo em vista que existe muito pouco de pesquisa nessa área da virtualização na perspectiva da aprendizagem.