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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Carta a um jovem investigador em Educação

Carta a um jovem investigador em Educação
(Título da palestra de abertura do XII Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, no dia 11/09/2014, proferida pelo professor António Nóvoa, na Universidade de Trás-os-Montes, em Villa Real - Portugal).

A seguir transcrevo os conselhos que ele apresentou na palestra, por sinal, EXCELENTE.


A escolha pela carta, ao contrário de outros gêneros, disse Nóvoa, me permite dizer tudo o que penso.

Oito + 1 conselhos.
Ele chamou de Oito + 1 conselhos, porque daria 8 e no final um que deve ser a conduta em todos.

1o. Conhece-te a ti mesmo.
 Ninguém pode ajudá-lo. Volte-se a si mesmo.
 "Põe o quanto tu é no mínimo o que fazes."
  É preciso ter dúvidas. É preciso cultivar dúvidas. Não é possível saber tudo. Deixe um espaço livre para si.
  Se tiver de escolher um caminho, escolha por aquele que não foi percorrido.

2o. Conhece bem as regras de sua ciência, mas não deixe de arriscar nem de transgredir.

Investigação ou é criação, ou é novidade, ou nada é.
Ele criticou a corrida por número e sem nehum sentido das publicações: são papers e mais papers, plágios,autoplágios, etc.
O que importa na ciência é a capacidade de ver outros modos, de pensar de outros modos. Sem transgressão não há ciência.

3o. Conhece para além dos limites da tua ciência.
O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe.
É preciso ler, ler muito, ler devagar, coisas inúteis. Se não gostar de ler, nem de pensar. Inteligência vem de inter-leger, de ligar. Complexidade vem de complexo, daquilo que é tecido em conjunto.
Grandes descobertas foram feitas ao acaso. Mas o acaso favorece aquele que está preparado para ver.

4o. Conhece em ligação com os outros
Perde tempo, conversa, partilha cada passo do teu trabalho.
Investigação faz-se com saltos e sobressaltos. Mas exige grupos. É o grupo que permite chegar aonde nunca chegaríamos sozinhos.
Valorize todo o conhecimento. Valorize a ciência, com consciência e a ciência com cultura.
Não há universidade nem ciência, sem partilha.
É na conversa com os outros que se definem e se enriquecem nossos próprios caminhos.

5o. Conhece com a tua escrita, pois é isso que te distingue como investigador.
Se não gosta de escrever, então desista. Procure outro afazer, porque não gosta de investigar.
Escrita não é uma  forma  de comunicar resultados, mas é uma forma de expressar. A escrita constitui o fator principal de distinção dos melhores cientistas e investigadores. Se conseguires usar uma palavra pequena, não use uma grande. Se conseguires escrever menos, não escreva mais.
A escrita ajuda-nos a conhecer os nossos limites.
O dilema só se resolve no dia em que percebemos que não há texto perfeito nem definitivo.
No trabalho científico não há palavras definitivas, são todas provisórias.

6o. Conhecer para além das evidências
A Educação é a coisa que se conhece pior, justamente porque ela é a coisa mais conhecida, a que se conhece melhor, a que todos conhecem.
Como construir conhecimento científico numa área que todos conhecem. Na Educação tudo que é evidente, mente.
O problema não é na abundância de opiniões. O problema é que tudo se mistura, como se tudo valesse.
Precisamos perceber que nada disso é novo. Já no final do século XIX se denunciava essa pseudo-ciência da qual os professores devem fugir.
A forma como se construiu o mito do "eduquês". A dossa anti-pedagógica rapidamente se transforma em ortodoxa. Como se transformam em ortodoxia as políticas educacionais atuais.

7o. Conhece com a responsabilidade de ação
Ninguém pode ser investigador em Educação fechado numa redoma. Querendo ou não andamos sempre misturados com as instituições, com as políticas. Mais vale reconhecer essa condição que finger que ela não existe.
A Educação nunca se é apenas investigador no sentido acanhado do termo. Nosso compromisso é com a Educação, mas com o país.

8o. Conhece com os olhos no país
Não aceite voltar ao Portugal do passado.


O mais um é o conselho que é último porque é o primeiro, porque tudo deveria depender dele.
+ 1: CONHECE COM LIBERDADE E PELA LIBERDADE
O produtivismo está a destruir a liberdade.
Uma universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade.

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