No Encontro de Pesquisa e Extensão promovido pela Direção Regional do Senac de Santa Catarina, em 13 de abril de 2011, fomos brindados com a palestra da Professora Dra. Mônica Fantin (UFSC) com o título “Iniciação científica na graduação e o papel do docente pesquisador”.
Transcrevo a seguir algumas anotações que fiz, assumindo o risco de errar no entendimento de alguns aspectos.
Fantin apresentou três argumentos para fazer pesquisa na graduação:
a) Primeiro argumento: indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
As universidades/faculdades devem fazer pesquisa, independente das condições.É papel social das instituições de educação superior a produção de conhecimento e esta somente acontece com a pesquisa. Além desta dimensão, há também que se considerar a dimensão do ensino e da formação profissional e formação humana.
Para formar pessoas a gente precisa acompanhar as transformações que estão ocorrendo na sociedade contemporânea. Novamente a gente tem de olhar a pesquisa para apontar isto. Ao fazer isto a escola atua também na extensão: a devolução disto para a sociedade.
A palestrante citou a autora Marilena Chauí, que menciona a chamada “universidade operacional”. As instituições têm agido muito em função de cumprir um papel operacional, das exigências de publicação de artigos, da própria exigência de conduzir pesquisa, entre outras. Há que se questionar que autonomia cada faculdade tem, tanto na questão orçamentária quanto em outras questões administrativas.
A nossa formação nem sempre deu conta de responder a estas questões que estão colocadas na sociedade contemporânea.
Outra questão a ser pensada: a avaliação. Tanto da aprendizagem, quanto as avaliações do sistema: ENADE e outros. Como estas avaliações repercutem no nosso papel de docente? Vivemos num cenário que muitas vezes atrela o investimento em Educação aos resultados destes exames do sistema. O que está sendo feito de fato para atender a essa demanda de mão-de-obra qualificada e de qualidade? Pode ser que as avaliações em alguma medida dão conta de olhar como estão sendo formados estes alunos.
Entretanto, talvez em função dos testes, a gente não está mais educando numa perspectiva de um projeto de nação. “A gente pode até estar formando um maníaco do parque, mas que sabe tudo de português e matemática”. A gente forma para ir bem nos testes, mas como ficam as questões dos valores?
b) Um outro argumento: Por que fazer pesquisa no ensino superior?
A gente ouve muito: todo professor é pesquisador. Mas será mesmo que todo professor é pesquisador? Em que medida um professor é pesquisador?
A sala de aula é o tempo e o espaço próprio de nosso locus de pesquisa. Em que medida a nossa profissão, além do exercício docente, pode se configurar como espaço de pesquisa? Tem este olhar intrínseco deste professor pesquisador que está na sala de aula. Todo professor, tendo consciência ou não pode ser um pesquisador em sua prática, na sala de aula. Se todo professor é pesquisador, vamos assumir essa identidade. A sala de aula é um espaço privilegiado para a pesquisa, mas o nosso fazer docente não se limita à sala de aula.
Há algum tempo, o que caracterizava a função do professor era a questão do ensino. Esse modelo hoje está muito questionado, desde Paulo Freire na década de 60. Esse modelo de alguém que sabe e ensina alguém que não sabe. Quando perguntamos à criança onde ela viu ou ouviu algo, ela diz: na TV, internet, etc. A escola vai aparecer em terceiro ou quarto lugar. Todos estes espaços ensinam de forma diferente da escola, pois esta última tem um espaço e tempo definido para fazê-lo. A criança quando precisa ler um texto e refletir ela vai ter dificuldade. Ela está acostumada a ver muitas informações ao mesmo tempo.
O que tudo isto tem a ver com o papel do professor? O professor não vai ser mais o único que vai ensinar a criança. Ele vai ser mais um. Entretanto, a dimensão da reflexibilidade, do pensamento crítico, a criança não aprende só lidando com a máquina (computador, TV). Isto vai depender de uma mediação. Mudando o professor daquele que ensina, para aquele que pesquisa, há que se repensar o papel do professor.
c) Um terceiro argumento para fazer pesquisa:A pesquisa é uma necessidade do ser professor.
As transformações do mundo atual repercutem nos nossos fazeres. Requer novas competências. O ato de mediar requer que se faça pesquisa. Esta dimensão tem de ser reiventada. Na nossa formação isto não está claro. O educador educa a dor da falta. A falta é um tripé: necessidade, interesse e motivação.
Fantin lembrou Bachelard, que diz “todo processo de formação como processo de transformação”. O Foucault quando fala das tecnologias de si (do sujeito), é nesta perspectiva da autoformação. Permite o sujeito ter esta consciência, de refletir sobre si próprio.
Se fazer pesquisa não é uma escolha, algumas idéias chaves e algumas competências podem ser citadas:
1) A primeira coisa é ter uma pergunta, uma curiosidade, uma questão. A partir da questão vem as hipóteses. Depois um percurso metodológico. O perfil do pesquisador vai delimitar um pouco o método que ele escolhe. E tem o referencial teórico: o que a literatura diz à respeito ou o que as pesquisas atuais dizem à respeito. Toda esta questão do referencial tem de estar de acordo com as perguntas. Em que medida as etapas que eu escolhi podem me ajudar a responder às perguntas.
2) Hoje tem certos objetos que aquelas antigas metodologias não dão mais conta de captar. Será que a metodologia que eu utilizava para entender a relação da criança com a TV vai servir para entender a relação da criança com as mídias sociais?
Humbero Eco lembra da humildade científica. Qualquer pessoa pode ensinar para qualquer pessoa. A importância do grupo de estudo dos professores assume um papel primordial. Uma coisa é fazer pesquisa sozinho, outro é a possibilidade de compartilhar isto com alguém, seja com os alunos ou com os colegas de trabalho.
O grupo de pesquisa vai ancorar a sua questão e te ajudar a construir este projeto de pesquisa.
Como funciona um grupo de pesquisa? O grupo deve trabalhar na perspectiva do ensino, pesquisa e extensão. A primeira condição para participar de um grupo é ter uma pesquisa. Cada professor traz junto tanto os alunos da iniciação científica quanto do mestrado. Fazer parceria entre instituições é fundamental. Quem está pesquisando isto nesta perspectiva que a gente pesquisa? É preciso buscar interlocuções.
Outro aspecto é o da divulgação: muitas vezes a gente faz uma série de coisas e não dá visibilidade ao que faz. A gente faz pesquisa também porque tem um compromisso político e social, mesmo quando não tem financiamentos.
Na agenda de pesquisa, além da definição de temas, a gente pode pensar em cada área de atuação, quais as tendências de pesquisa naquela área. O que está sendo produzido sobre isto, o que está sendo dito, ou mesmo a lacuna: o que não está sendo dito. Como a gente dialoga o local com o universal? O que outras pesquisas já responderam sobre isto? Será que estou reiventando a roda? Alguém já fez isto em outro contexto? Devemos estar antenados com outras realidades, mas nunca perder de vista a nossa realidade. Um desafio dos grupos de pesquisa é dialogar com outras áreas.
Se você compartilhar os resultados da sua pesquisa, você tem a chance de ter uma síntese mais rica ainda. O projeto de pesquisa tem de ser aprovado no comitê de ética. O que rege são as pesquisas com seres humanos, sobretudo no campo da saúde.
Finalmente, Fantin apontou a questão da importância de assumir a autoria nas pesquisas. Ao invés de dizer “descobriu-se que....”, dizer “descobri que...”.
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